quinta-feira, 17 de abril de 2025

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Aniversário exige cálculo. Não sou avesso à matemática, mas os número me assustam. Mas é inevitável somar o percurso até o tempo presente, mesmo para saber esse outro tempo que nos resta. Nesse processo sei que não terei filhos, que dentes, pelos negros e colágeno não retornarão. O estômago não ficará melhor. E será sempre mais dificil perder peso, ganhar ou perder massa muscular. E será esse encolher a cada ano. Hoje entendo a necessidade de corrimão nas escadas. A vida tem menos promessas. E você não compra mais briga, zela pela paz, pelo sossego e pelo conforto. 

Não prosperei. Fui otimista em relação à vida e levei uma rasteira. Tenho cada vez menos amigos. Me arrependo de todas as escolhas erradas, pois sei que o que me trouxe até aqui fui eu mesmo. Minhas escolhas me definem. Os ventos contrários são os ventos contrários. Agradeço não ter morrido e estar com uma saúde boa. A memória do amor é sempre triste, e há muito fracasso nesse campo, uma colossal frustração sexual e afetiva. Apesar de tudo, sobrevivi a uma serie de mortes de pessoas mais jovens, promissoras e um tanto melhores que eu. Tenho o privilégio de alguma fé metafísica. Meu lado criança segue em bullying. Contudo, sempre estou confortável comigo e não pratico - conscientemente o autoengano. E o mais importante: desde a infância me preparo para uma velhice solitária.

segunda-feira, 14 de abril de 2025

Interpretação. Linguagem e ambiguidade

 "Confundimos o convidado do podcast." - um enunciado bastante ambíguo.

Interpretação. Alegoria e analogia

 


Tema. Manipulação da informação pela mídia hegemônica

 


Interpretação. Expressividade da língua portuguesa

 


Redação. Tecnologia e conflito geracional

 


Intertextualidade. Metáfora na canção

 


Interpretação. Intertextualidade

 


Interpretação. Intextertualidade



 

REDAÇÃO NOTA MAXIMA UNESP MEDICINA 2022

 A Tristeza Como Parte da Realidade Humana

Na Bíblia, Eva e Adão são condenados ao sofrimento e à desgraça após comerem o fruto proibido do Paraíso. Na mitologia grega, os seres humanos também são punidos com as maldições dos deuses do Olimpo após a abertura da caixa de Pandora, que continha todos os males do mundo. Mesmo sendo obras literárias, essas narrativas refletem a cultura da humanidade ao longo dos séculos, evidenciando como a tristeza é tradicionalmente interpretada como castigo. Isso reforça a crença de que apenas a felicidade merece ser contemplada. Contudo, em tempos de felicidade compulsória, como no século XXI, é essencial compreender que a tristeza faz parte da normalidade da vida. Não estar bem o tempo todo é natural, e negar esse estado pode levar a atitudes prejudiciais na tentativa de retornar a um estado artificial de felicidade.

Em primeira análise, vale destacar que o cotidiano humano está cada vez mais repleto de falsas alegrias, o que distorce a percepção da tristeza como algo natural. Conforme o sociólogo Guy Debord, a sociedade do espetáculo promove a necessidade de o indivíduo se exibir aos outros sob uma aparência exagerada de sucesso, mesmo que essa imagem não corresponda à sua realidade. Nessa lógica, o intenso compartilhamento de momentos felizes — seja pelas redes sociais, seja em interações cotidianas — cria uma visão hegemônica da felicidade. A ausência de representações negativas da vida real faz com que qualquer sentimento fora desse padrão seja visto como anormal. Assim, a tristeza é marginalizada e passa a ser vista como incompatível com a vida moderna.

Consequentemente, ao não reconhecer a melancolia como uma condição humana legítima, muitas pessoas recorrem a medidas problemáticas para restaurar o estado de positividade. Isso pode incluir o uso excessivo de medicamentos ou até o envolvimento com drogas ilícitas, numa tentativa de escapar da dor emocional. Quando alguém se recusa a aceitar sua tristeza, tende a fugir da realidade como forma de proteção emocional. No entanto, essas estratégias são paliativas: a dor retorna, e o indivíduo se vê preso em um ciclo vicioso, no qual a fuga se torna a única resposta possível à tristeza. Com isso, negar a existência de momentos difíceis pode, na verdade, aprofundar ainda mais o sofrimento.

Portanto, mesmo em uma era marcada pela imposição da felicidade constante, é fundamental compreender que não estar bem o tempo todo é perfeitamente normal. A busca incessante por soluções imediatas e superficiais apenas mascara a realidade humana, impedindo a construção de um bem-estar verdadeiro e duradouro. Assim como Eva e Adão, ou como os mortais diante da caixa de Pandora, não fomos castigados, apenas colocados diante da verdade da existência: a vida é feita de luzes e sombras, e a tristeza é uma parte inevitável — e necessária — do ser.


 Eric Bezerra de Sousa NOTA 28,00

REDAÇÃO NOTA MÁXIMA - Medicina UNESP 2022

 A Sociedade do Cansaço e a Ditadura da Felicidade

No livro Sociedade do Cansaço, o autor Byung-Chul Han define a sociedade contemporânea como uma sociedade cansada e insatisfeita consigo mesma devido ao êxito capitalista em instaurar uma ditadura da felicidade, na qual a felicidade se torna uma obrigação e a tristeza passa a ser associada à incompetência e ao fracasso pessoal. Essa realidade é motivada pelo avanço do capitalismo e resulta em um mundo onde a tristeza é descartada, ignorando sua importância para o equilíbrio emocional e, consequentemente, prejudicando a saúde mental dos indivíduos. Assim, torna-se cada vez mais necessário reforçar a ideia de que "está tudo bem não estar bem".

Na sociedade capitalista atual, é possível identificar mecanismos de controle e influência sobre a população. Um desses mecanismos é descrito pelos filósofos da Escola de Frankfurt como Indústria Cultural, a qual uniformiza discursos nas mídias e meios de comunicação para propagar uma única visão de mundo. É por meio de filmes, músicas e séries que se dissemina a ideia da felicidade como padrão de vida desejável e obrigatório. Dessa maneira, a busca compulsória pela felicidade se torna parte do imaginário coletivo, estimulando uma sociedade altamente competitiva e emocionalmente reprimida, em que a tristeza é desvalorizada. Esquece-se, no entanto, que sentimentos como tristeza e insatisfação também impulsionaram transformações históricas importantes, como revoluções sociais. Nesse sentido, a felicidade acaba sendo usada como instrumento de controle social.

Como consequência desse cenário, observa-se o aumento do uso de antidepressivos e a crescente procura por atendimento psicológico, o que revela que a tristeza é tratada como um problema a ser eliminado. Ao mesmo tempo, surgem críticas a essa lógica, expressas por figuras públicas como as atletas Simone Biles e Naomi Osaka, que optaram por priorizar a saúde mental ao se afastarem de competições esportivas. Essas atitudes evidenciam os danos da competitividade exacerbada e reafirmam que a tristeza e a insatisfação são partes naturais da experiência humana. Reconhecer isso é um passo importante para romper com a exigência da felicidade constante.

Conclui-se, portanto, que a felicidade compulsória é um traço marcante da sociedade capitalista contemporânea, sendo utilizada como ferramenta de controle e manutenção da ordem social. A desvalorização da tristeza contribui para o agravamento de problemas de saúde mental e transforma o mundo moderno em uma verdadeira “sociedade do cansaço”, tal como apontado por Byung-Chul Han.


Vinícius Cavalcanti de Araujo NOTA 25,455

REDAÇÃO - Medicina UNESP 2022

A Ditadura da Felicidade

Em uma das animações mais célebres da indústria cinematográfica contemporânea, Divertidamente, os estados emocionais de Riley, uma menina prestes a entrar na puberdade, são retratados por personagens que simbolizam e recebem os nomes das cinco emoções fundamentais e inerentes ao ser humano: Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojo. Controlando as ações da menina, os “personagens-emoções” são liderados pela Alegria, a qual tenta monopolizar toda a gerência comportamental da criança por acreditar ser a emoção mais capaz de prover uma infância alegre. Entretanto, ao excluir os demais estados emocionais da vivência de Riley e, principalmente, ao afastar a Tristeza do tratamento dos momentos infelizes, o psicológico da menina entra em colapso. Fora dos cinemas, é fato que Divertidamente pode ser comparado ao mundo contemporâneo: a felicidade, enquanto sentimento, assume traços de uma ditadura comportamental no século XXI, na qual os indivíduos globalizados têm que compulsoriamente buscá-la e exercê-la a todo momento. Nesse sentido, dois fatores configuram-se como alicerces desse quadro: a estigmatização das doenças mentais na sociedade hodierna e, consequentemente, a espetacularização da felicidade frente ao escondimento da tristeza.

Em primeiro lugar, é necessário ressaltar o estigma a que estão sujeitos aqueles que recorrem a tratamentos ou terapias psicológicas. Isso ocorre porque, historicamente, nas sociedades ocidentais, o estado mental esteve associado ao que se denominava força de espírito, de modo que quem possuísse qualquer distúrbio mental era visto como um indivíduo incapaz ou demonizado, sujeito à exclusão social e obrigado a participar de rituais de exorcismo, como ocorria no tribunal do Santo Ofício, na Idade Média. Consoante a esse cenário, tal estigma persiste e é evidenciado, nos dias de hoje, por exemplo, na ridicularização que a atleta Simone Biles sofreu pela mídia estadunidense ao desistir de competir nas Olimpíadas de Tóquio em razão de sua saúde mental. Nota-se, dessa forma, como a tristeza — seja ela manifestação de um estado emocional ou sintoma de doenças — é estigmatizada no tecido social.

Por conseguinte, de modo a minimizar a repressão social, os indivíduos escondem seus enfrentamentos psicológicos e concentram-se em exteriorizar tudo o que pode ser entendido como felicidade. Tal ordem social pode ser evidenciada, por exemplo, na trajetória da tenista japonesa Naomi Osaka, a qual afirmou com o lema “está tudo bem não estar bem”, em entrevista à revista Time, que era, muitas vezes, obrigada a fingir alegria durante premiações e eventos relacionados ao tênis. Apenas recentemente conseguiu discutir um pouco com a mídia sobre seus conflitos internos. Observa-se, nessa lógica, que a felicidade solidificou-se, atualmente, como um objeto de espetacularização, o qual é exteriorizado pelos sujeitos sociais como resposta à validação que se espera de quem a possui. Dessa forma, a tristeza é entendida como defeito a ser apagado, e o indivíduo torna-se submisso à necessidade de viver feliz.

Portanto, fica claro, à vista dos fatos supracitados, que a felicidade assume aspectos compulsórios no mundo hodierno, estigmatizando enfrentamentos psicológicos por ser entendida como algo alheio a eles e tornando os indivíduos submissos ao seu próprio “paletó social”.

 NOTA 26,320 (28 É A MÁXIMA)

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Aniversário exige cálculo. Não sou avesso à matemática, mas os número me assustam. Mas é inevitável somar o percurso até o tempo presente, m...