As legendas dos quadros (que trazem informações), constantemente ignoradas nas exposições de arte, ganham imensas proporções, obrigando os espectadores a se curvarem para ver as obras, redimensionadas em menor escalas e postas/situadas no lugar das legendas. O inusitado e o nonsense das posturas dos espectadores geram o humor.
Blogue de Técnica de Redação elaborado pelo professor Eduardo de Araújo Teixeira com fins fundamentalmente educacionais.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2016
TEMA. O poder de síntese em 25 microcrônicas de Marcelino Freire sobre a cidade de São Paulo
Marcelino Freire: 25 microcrônicas paulistanas para o aniversário de São Paulo
[01]
Todo mundo diz que ama São Paulo.
Mas só quer sexo.
Mas só quer sexo.
[02]
Dizem que São Paulo não dorme.
Dorme, sim.
Mas é sonâmbula.
Dorme, sim.
Mas é sonâmbula.
[03]
No meio do caminho
um minhocão.
um minhocão.
[04]
Fogo.
Apagaram a favela.
Apagaram a favela.
[05]
Em São Paulo o que mais tem é planta.
De prédio.
De prédio.
[06]
São Paulo é uma cidade que acorda.
Não é uma cidade que amanhece.
Não é uma cidade que amanhece.
[07]
São Paulo não é.
São Paulo são.
São Paulo são.
[08]
Prato típico:
o self-service.
[09]
Roupa típica:
a gravata.
[10]
Música típica:
a do elevador.
a do elevador.
[11]
Idioma oficial:
o dinheiro.
o dinheiro.
[12]
São Paulo não tem praia
porque não gosta de ver
ninguém deitado.
ninguém deitado.
[13]
São Paulo é a terra do trabalho.
É que está todo mundo em greve.
É que está todo mundo em greve.
[14]
As bundas mais bonitas estão em São Paulo.
Por isso o número de filas.
Por isso o número de filas.
[15]
Mortoboys.
[16]
São Paulo não para.
Estaciona.
Estaciona.
[17]
A poesia de São Paulo
está nos saraus.
está nos saraus.
[18]
Paulo São pelos ares.
[19]
O rio grita.
Mas o volume é morto.
[20]
São Paulo tem samba no pé, sim.
O resto do corpo é que fica parado.
O resto do corpo é que fica parado.
[21]
Existe amor em São Paulo.
Mas é caro.
Mas é caro.
[22]
Todo mundo vem para cá.
Para lá, para cá, para lá.
Para lá, para cá, para lá.
[23]
Pequenos rios
as ciclovias.
as ciclovias.
[24]
Aqui a noite é uma criança.
Morta.
Morta.
[25]
Apesar de tudo,
tudo.
LINGUAGEM: Um argumento posse ser expresso na forma de uma imagem
Um mapa da região metropolitana de São Paulo com a extensão da "malha" do metrô, revela o quanto é pífio o investimento na cidade neste meio de transporte coletivo, apesar dos 20 anos de investimento do governo atual.
LINGUAGEM. Jogo de palavra
O conteúdo político da mensagem é intensificado na produção da ironia do discurso construída no jogo de palavras (e nas imagens contrapostas) que revela o paradoxo dos posicionamentos dos governantes de São Paulo; afeitos ao nacionalismo acéfalo mas arbitrários em relação às manifestações democráticas por direitos.
IDEIAS. Humor e ironia sobre a mania dos alimentos sem glúten
Fundamental para que o humor seja entendido, neste quadrinho de Piraro, é ter conhecimento prévido do conto de fadas "João e Maria", duas crianças abandonadas pelo pai numa floresta e que irão, na narrativa, encontrar uma casa de doces. Na charge, não há bruxa, o humor/ironia surge de que, famintos, o "pavor" das crianças é a existência do "glúten", uma nova mania na sociedade brasileira/mundial como sinônimo de componente nocivo à saúde. Mania, pois já se comprovou que só é "indigesto" aos celíacos.
IDEIA: Charge sobre as barreiras enfrentadas pelas mulheres no mercado de trabalho
A postura atônita da mulher com seu filho, diante de uma "entrada" formatada para os homens, encimada uma placa destacando "Oportunidade de trabalho", mostra como nas grandes cidades (contexto do quadrinho) o espaço do homem no mercado de trabalho está garantido, mas não para mulher. Simples, curto, sintético.
LINGUAGEM: Uma charge fundamentada no paradoxo
O paradoxo contido no que afirma o professor, revela na contradição do discurso, e disto surge o humor/ironia deste quadrinho.
IDEIAS: Nota dos alunos cotistas superando os não cotistas
Nota de alunos que ingressam na UFMG pela cota já supera a dos não cotistas
Cotistas que garantiram uma vaga na UFMG neste ano obtiveram notas superiores às de não cotistas que fizeram o vestibular em 2013. Exceção foi apenas um curso
postado em 26/01/2016 12:48
Márcia Maria Cruz /EM , Estado de Minas
Cotistas que chegam à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) obtiveram notas superiores às dos não cotistas ingressantes em 2013, último ano em que o vestibular foi a porta de entrada para uma das maiores instituições públicas do Brasil, segundo levantamento das notas de cortes dos últimos quatro anos a que o Estado de Minas teve acesso, em praticamente todos os cursos. A única exceção foi engenharia de produção, ainda assim, com diferença de menos de um ponto. Em um dos cursos mais concorridos da Federal, os cotistas tiveram que alcançar a nota mínima de 750,02 pontos para garantir uma vaga em medicina, pontuação superior à que a ampla concorrência conquistou em 2013, de 685,3 pontos (veja abaixo).
Neste ano, primeiro em que a reserva de vagas foi aplicada na totalidade – 50% das vagas, conforme prevê a Lei das Cotas aprovada em agosto de 2012 –, os cotistas enfrentaram maior concorrência entre eles. “Os cotistas entram na UFMG mais bem preparados que os não cotistas de poucos anos atrás”, afirma o pró-reitor de Graduação, Ricardo Takahashi. Em 2013, a reserva de cotas era de apenas 12,5% do total de vagas.
Das 6.279 vagas, 3.142 foram destinadas às cotas de escola pública, levando em conta reserva para negros e indígenas. Uma delas foi conquistada pela estudante Talita Barreto, de 20 anos. “Todo ano a nota de corte muda e tivemos muito mais inscrições para o Enem. Quando vi minha nota fiquei com medo de não passar, principalmente em engenharia, que é um curso muito concorrido.” A ação afirmativa foi fundamental para que a jovem, filha da diarista Helena Barreto, se tornasse a primeira em sua família a ser aprovada para o ensino superior numa universidade federal. “Era um sonho fazer faculdade. Minha mãe sempre insistiu para que eu e meus irmãos estudássemos. As cotas nos possibilitam acesso a algo que é nosso”, afirmou. A jovem também foi aprovada, por meio das cotas, para música na Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg).
Na avaliação do pró-reitor, o aumento da nota de corte está relacionada à adoção do Sistema de Seleção Unificado (Sisu). Em 2013, cerca de 60 mil candidatos disputaram as vagas na UFMG. Em 2016, o número mais que triplicou, passando para 195,6 mil canditaturas. Ao todo, foram 158,3 mil candidatos que tinham a opção de se inscrever em até dois cursos diferentes. “O Sisu tem esse efeito de facilitar o acesso à disputa pelas vagas nas universidades”, diz.
Nesta edição, as diferenças entre notas de corte para cotistas e não cotistas variam entre 4,8% (menor diferença, observada no curso de biblioteconomia) e 11,4% (maior diferença, no curso de história). A diferença média foi de 8,2%. “Por definição, as notas de corte dos cotistas devem ser menores que as da ampla concorrência. Do contrário, as cotas não teriam nenhum efeito”, diz Takahashi. Em 2014, porém, a nota de corte de cotistas no curso de história foi maior do que os não cotistas. Naquele ano, a diferença média foi de 6,9%.
A expectativa do pró-reitor é que a implantação das cotas em sua totalidade possa recuperar a proporção de estudantes de baixa renda vinculados à UFMG até 2013. Naquele ano, 49% de estudantes eram provenientes de famílias com renda de até cinco salários-mínimos. Essa proporção caiu depois da adoção do Sisu para 42%, em 2014, e para 46%, em 2015.
Desempenho
Com a ampliação do percentual de vagas destinadas às cotas, um dos fatores esperado por Takahashi é que o ingresso de estudantes de escolas municipais e estaduais seja ampliado. Nos primeiros anos das cotas, havia um domínio de estudantes vindos de escolas federais – essas instituições ocupam os primeiros lugares no ranking do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2015. “É provável que aumente um pouco a proporção de estudantes de escolas estaduais e municipais em relação aos estudantes egressos de escolas federais de ensino médio”, afirmou. Essa previsão só poderá ser confirmada depois que os alunos efetivarem a matrícula.
Os dados da universidade têm demonstrado que não há diferença no desempenho de cotistas e não cotistas. “No que diz respeito à qualidade, tudo indica que não exista nenhuma razão para preocupação”, disse Takahashi. O pró-reitor reitera que o aumento da competição pelas vagas na maior universidade pública do estado, decorrente do Sisu, também causou um aumento da competição entre os cotistas.
Debutantes da família
Muitos estudantes que entram pelas cotas são os primeiros da família a ingressar no ensino superior. É o caso da estudante Lívia Teodoro, de 24 anos, que foi aprovada em história, com média geral de 667,92. “Obtive 880 pontos na redação e acredito que isso tenha me ajudado bastante.” Ela credita o desempenho ao ativismo na internet, onde publicava textos sobre feminismo negro. A jovem escreve para o blog Na Veia da Nêga e é coordenadora-geral do Clube de Blogueiras Negras de Belo Horizonte.
Lívia cursou todo o ensino fundamental e médio em escola pública. “Tive a oportunidade de conhecer professores que me instigaram muito e fizerem despertar esse lado apaixonado por estudar, entretanto, não basta querer para conseguir absorver conhecimento dentro de uma escola pública.Não é nada fácil se concentrar numa sala com 40 alunos e goteiras em dias de chuva. Este era o retrato de muitos dos meus anos escolares.”
Por um tempo a universidade era algo distante para a jovem, que teve que abandonar temporariamente o ensino médio. “Parei de estudar por conta do trabalho, saía muito tarde e não tinha o mínimo foco nos estudos, após um dia inteiro de trabalho.” Lívia reconhece que, mesmo gostando muito de estudar, o ensino em escola pública não a colocava em pé de igualdade com alunos que estudaram na rede particular.
Sonho
“A UFMG para mim é um sonho, que não acreditava conseguir. Fiquei em primeiro lugar das cotas. Sem as cotas não teria sequer tentado e, não por não acreditar na minha capacidade, mas sim por diversos fatores que nos deixam atrás daqueles que tem toda uma estrutura privilegiada para assegurar que eles cheguem lá”, afirmou.
Lívia será a primeira a se formar no ensino superior na família, tanto do lado paterno quanto materno. “Minha avó, com quem moro, é analfabeta, minha mãe não terminou o primário. Ambas mulheres fortes e guerreiras, que, como podem imaginar, estão deslumbradas em me ver entrar em uma universidade pública.”
Lista do ProUni
A lista com os nomes dos candidatos pré-selecionados a bolsas do Programa Universidade para Todos (ProUni) já está disponível na internet. O resultado da primeira chamada pode ser acessado na página do programa (siteprouni.mec.gov.br), pelo 0800-616161 e nas instituições de ensino participantes. O estudante deverá comparecer até 1º de fevereiro na instituição para a qual foi pré-selecionado e comprovar as informações prestadas na ficha de inscrição. A perda do prazo ou não comprovação das informações implicará, automaticamente, reprovação do candidato. O programa ofertou 203.602 bolsas para 30.931 cursos.
IDEIAS: Para aperfeiçoar a argumentação: As 24 falácias lógicas
AS 24
FALÁCIAS LÓGICAS
O
filósofo, matemático e cientista americano Charles Sanders Peirce
fala que as lógicas são "ferramentas para o raciocínio
correto".
Não
sou nenhum grande entendido sobre o assunto, mas acho lógica um
assunto fascinante. O pouco que conheço e observo já acaba sempre
sendo muito útil em conversas, diálogos, em qualquer ocasião que
peça algum tipo de análise, construção e exposição de
raciocínio ou argumentação.
Agora,
quando falamos "construção e exposição de raciocínio ou
argumentação", isso pode ficar parecendo uma coisa meio séria,
sisuda, de professor de filosofia ou discussões inflamadas entre
ateus e crentes na internet. Mas a verdade é que fazemos isso o
tempo todo. As lógicas são o próprio esqueleto que torna as
linguagens (dos idiomas à matemática, passando, e muito, por
tecnologia da informação) possíveis.
Como
de fato dependemos disso pra nos relacionarmos uns com os outros,
para nos fazer entender claramente, melhorar nossa forma de pensar e
para resolvermos as coisas práticas da vida, pode ser bem útil
conhecer e entender estes processos, ainda que superficialmente.
Platão,
Sócrates e Aristóteles estão sempre prontos para uma boa
argumentação
Já
demos algumas pinceladas sobre o tema aqui no PapodeHomem,
mencionando algumas das famosas falácias de lógica argumentativa --
que são um capítulo específico dentro do tema, mas que tem
aplicações bem práticas. E estamos também preparando um novo
material, bem completo, tratando não só de lógica, mas das noções
de debate, diálogo e conversação, que são temas relacionados,
igualmente ricos, complexos e comumente pouco explorados.
Agora
achei o site Thou Shalt Not Commit Logical Fallacies, o mais
simpático que já vi sobre o assunto. Ele lista as 24 falácias mais
comuns, em linguagem simples, com exemplos engraçadinhos, e tem até
um pôster para você baixar em PDF, mandar imprimir na gráfica e
colar na parede. Tudo de graça.
Como
em português o material sobre isso é escasso, e esse é um
conhecimento bem importante quando se quer travar diálogos e debates
saudáveis, resolvemos fazer um esforço extra e traduzir todo o
conteúdo do Thou Shalt Not... para disponibilizar aqui.
Abaixo,
24 das mais comuns falácias lógicas argumentativas. A numeração
não indica nenhum tipo de hierarquia entre elas, é apenas para
facilitar futuras referencias a exemplos específicos.
Leia,
entenda e não as use.
1.
Espantalho
Você
desvirtuou um argumento para torná-lo mais fácil de atacar.
Ao
exagerar, desvirtuar ou simplesmente inventar um argumento de alguém,
fica bem mais fácil apresentar a sua posição como razoável ou
válida. Este tipo de desonestidade não apenas prejudica o discurso
racional, como também prejudica a própria posição de alguém que
o usa, por colocar em questão a sua credibilidade – se você está
disposto a desvirtuar negativamente o argumento do seu oponente, será
que você também não desvirtuaria os seus positivamente?
Exemplo:
Depois de Felipe dizer que o governo deveria investir mais em saúde
e educação, Jader respondeu dizendo estar surpreso que Felipe odeie
tanto o Brasil, a ponto de querer deixar o nosso país completamente
indefeso, sem verba militar.
***
2.
Causa Falsa
Você
supôs que uma relação real ou percebida entre duas coisas
significa que uma é a causa da outra.
Uma
variação dessa falácia é a "cum hoc ergo propter hoc"
(com isto, logo por causa disto), na qual alguém supõe que, pelo
fato de duas coisas estarem acontecendo juntas, uma é a causa da
outra. Este erro consiste em ignorar a possibilidade de que possa
haver uma causa em comum para ambas, ou, como mostrado no exemplo
abaixo, que as duas coisas em questão não tenham absolutamente
nenhuma relação de causa, e a sua aparente conexão é só uma
coincidência.
Outra
variação comum é a falácia "post hoc ergo propter hoc"
(depois disto, logo por causa disto), na qual uma relação causal é
presumida porque uma coisa acontece antes de outra coisa, logo, a
segunda coisa só pode ter sido causada pela primeira.
Exemplo:
Apontando para um gráfico metido a besta, Rogério mostra como as
temperaturas têm aumentado nos últimos séculos, ao mesmo tempo em
que o número de piratas têm caído; sendo assim, obviamente, os
piratas é que ajudavam a resfriar as águas, e o aquecimento global
é uma farsa.
***
3.
Apelo à emoção
Você
tentou manipular uma resposta emocional no lugar de um argumento
válido ou convincente.
Apelos
à emoção são relacionados a medo, inveja, ódio, pena, orgulho,
entre outros.
É
importante dizer que às vezes um argumento logicamente coerente pode
inspirar emoção, ou ter um aspecto emocional, mas o problema e a
falácia acontecem quando a emoção é usada no lugar de um
argumento lógico. Ou, para tornar menos claro o fato de que não
existe nenhuma relação racional e convincente para justificar a
posição de alguém.
Exceto
os sociopatas, todos são afetados pela emoção, por isso apelos à
emoção são uma tática de argumentação muito comum e eficiente.
Mas eles são falhos e desonestos, com tendência a deixar o oponente
de alguém justificadamente emocional.
Exemplo:
Lucas não queria comer o seu prato de cérebro de ovelha com fígado
picado, mas seu pai o lembrou de todas as crianças famintas de algum
país de terceiro mundo que não tinham a sorte de ter qualquer tipo
de comida.
***
4.
A falácia da falácia
Supor
que uma afirmação está necessariamente errada só porque ela não
foi bem construída ou porque uma falácia foi cometida.
Há
poucas coisas mais frustrantes do que ver alguém argumentar de
maneira fraca alguma posição. Na maioria dos casos um debate é
vencido pelo melhor debatedor, e não necessariamente pela pessoa com
a posição mais correta. Se formos ser honestos e racionais, temos
que ter em mente que só porque alguém cometeu um erro na sua defesa
do argumento, isso não necessariamente significa que o argumento em
si esteja errado.
Exemplo:
Percebendo que Amanda cometeu uma falácia ao defender que devemos
comer alimentos saudáveis porque eles são populares, Alice resolveu
ignorar a posição de Amanda por completo e comer Whopper Duplo com
Queijo no Burger King todos os dias.
***
5.
Ladeira Escorregadia
Você
faz parecer que o fato de permitirmos que aconteça A fará com que
aconteça Z, e por isso não podemos permitir A.
O
problema com essa linha de raciocínio é que ela evita que se lide
com a questão real, jogando a atenção em hipóteses extremas. Como
não se apresenta nenhuma prova de que tais hipóteses extremas
realmente ocorrerão, esta falácia toma a forma de um apelo à
emoção do medo.
Exemplo:
Armando afirma que, se permitirmos casamentos entre pessoas do mesmo
sexo, logo veremos pessoas se casando com seus pais, seus carros e
seus macacos Bonobo de estimação.
Exemplo
2: a explicação feita após o terceiro subtítulo - "O voto
divergente do ministro Ricardo Lewandowski e a ladeira escorregadia"
- deste texto sobre aborto. Vale a leitura.
***
6.
Ad hominem
Você
ataca o caráter ou traços pessoais do seu oponente em vez de
refutar o argumento dele.
Ataques
ad hominem podem assumir a forma de golpes pessoais e diretos contra
alguém, ou mais sutilmente jogar dúvida no seu caráter ou
atributos pessoais. O resultado desejado de um ataque ad hominem é
prejudicar o oponente de alguém sem precisar de fato se engajar no
argumento dele ou apresentar um próprio.
Exemplo:
Depois de Salma apresentar de maneira eloquente e convincente uma
possível reforma do sistema de cobrança do condomínio, Samuel
pergunta aos presentes se eles deveriam mesmo acreditar em qualquer
coisa dita por uma mulher que não é casada, já foi presa e, pra
ser sincero, tem um cheiro meio estranho.
***
7.
Tu quoque (você também)
Você
evita ter que se engajar em críticas virando as próprias críticas
contra o acusador – você responde críticas com críticas.
Esta
falácia, cuja tradução do latim é literalmente “você também”,
é geralmente empregada como um mecanismo de defesa, por tirar a
atenção do acusado ter que se defender e mudar o foco para o
acusador.
A
implicação é que, se o oponente de alguém também faz aquilo de
que acusa o outro, ele é um hipócrita. Independente da veracidade
da contra-acusação, o fato é que esta é efetivamente uma tática
para evitar ter que reconhecer e responder a uma acusação contida
em um argumento – ao devolver ao acusador, o acusado não precisa
responder à acusação.
Exemplo:
Nicole identificou que Ana cometeu uma falácia lógica, mas, em vez
de retificar o seu argumento, Ana acusou Nicole de ter cometido uma
falácia anteriormente no debate.
Exemplo
2: O político Aníbal Zé das Couves foi acusado pelo seu oponente
de ter desviado dinheiro público na construção de um hospital.
Aníbal não responde a acusação diretamente e devolve insinuando
que seu oponente também já aprovou licitações irregulares em seu
mandato.
***
8.
Incredulidade pessoal
Você
considera algo difícil de entender, ou não sabe como funciona, por
isso você dá a entender que não seja verdade.
Assuntos
complexos como evolução biológica através de seleção natural
exigem alguma medida de entendimento sobre como elas funcionam antes
que alguém possa entendê-los adequadamente; esta falácia é
geralmente usada no lugar desse entendimento.
Exemplo:
Henrique desenhou um peixe e um humano em um papel e, com desdém
efusivo, perguntou a Ricardo se ele realmente pensava que nós somos
babacas o bastante para acreditar que um peixe acabou evoluindo até
a forma humana através de, sei lá, um monte de coisas aleatórias
acontecendo com o passar dos tempos.
***
9.
Alegação especial
Você
altera as regras ou abre uma exceção quando sua afirmação é
exposta como falsa.
Humanos
são criaturas engraçadas, com uma aversão boba a estarem errados.
Em
vez de aproveitar os benefícios de poder mudar de ideia graças a um
novo entendimento, muitos inventarão modos de se agarrar a velhas
crenças. Uma das maneiras mais comuns que as pessoas fazem isso é
pós-racionalizar um motivo explicando o porque aquilo no qual elas
acreditavam ser verdade deve continuar sendo verdade.
É
geralmente bem fácil encontrar um motivo para acreditar em algo que
nos favorece, e é necessária uma boa dose de integridade e
honestidade genuína consigo mesmo para examinar nossas próprias
crenças e motivações sem cair na armadilha da auto-justificação.
Exemplo:
Eduardo afirma ser vidente, mas quando as suas “habilidades”
foram testadas em condições científicas apropriadas, elas
magicamente desapareceram. Ele explicou, então, que elas só
funcionam para quem tem fé nelas.
***
10.
Pergunta carregada
Você
faz uma pergunta que tem uma afirmação embutida, de modo que ela
não pode ser respondida sem uma certa admissão de culpa.
Falácias
desse tipo são particularmente eficientes em descarrilar discussões
racionais, graças à sua natureza inflamatória – o receptor da
pergunta carregada é compelido a se justificar e pode parecer
abalado ou na defensiva. Esta falácia não apenas é um apelo à
emoção, mas também reformata a discussão de forma enganosa.
Exemplo:
Graça e Helena estavam interessadas no mesmo homem. Um dia, enquanto
ele estava sentado próximo suficiente a elas para ouvir, Graça
pergunta em tom de acusação: “como anda a sua rehabilitação das
drogas, Helena?”
***
11.
Ônus da prova
Você
espera que outra pessoa prove que você está errado, em vez de você
mesmo provar que está certo.
O
ônus (obrigação) da prova está sempre com quem faz uma afirmação,
nunca com quem refuta a afirmação. A impossibilidade, ou falta de
intenção, de provar errada uma afirmação não a torna válida,
nem dá a ela nenhuma credibilidade.
No
entanto, é importante estabelecer que nunca podemos ter certeza de
qualquer coisa, portanto devemos valorizar cada afirmação de acordo
com as provas disponíveis. Tirar a importância de um argumento só
porque ele apresenta um fato que não foi provado sem sombra de
dúvidas também é um argumento falacioso.
Exemplo:
Beltrano declara que uma chaleira está, nesse exato momento,
orbitando o Sol entre a Terra e Marte e que, como ninguém pode
provar que ele está errado, a sua afirmação é verdadeira.
***
12.
Ambiguidade
Você
usa duplo sentido ou linguagem ambígua para apresentar a sua verdade
de modo enganoso.
Políticos
frequentemente são culpados de usar ambiguidade em seus discursos,
para depois, se forem questionados, poderem dizer que não estavam
tecnicamente mentindo. Isso é qualificado como uma falácia, pois é
intrinsecamente enganoso.
Exemplo:
Em um julgamento, o advogado concorda que o crime foi desumano. Logo,
tenta convencer o júri de que o seu cliente não é humano por ter
cometido tal crime, e não deve ser julgado como um humano normal.
***
13.
Falácia do apostador
Você
diz que “sequências” acontecem em fenômenos estatisticamente
independentes, como rolagem de dados ou números que caem em uma
roleta.
Esta
falácia de aceitação comum é provavelmente o motivo da criação
da grande e luminosa cidade no meio de um deserto americano chamada
Las Vegas.
Apesar
da probabilidade geral de uma grande sequência do resultado desejado
ser realmente baixa, cada lance do dado é, em si mesmo, inteiramente
independente do anterior. Apesar de haver uma chance baixíssima de
um cara-ou-coroa dar cara 20 vezes seguidas, a chance de dar cara em
cada uma das vezes é e sempre será de 50%, independente de todos os
lances anteriores ou futuros.
Exemplo:
Uma roleta deu número vermelho seis vezes em sequência, então
Gregório teve quase certeza que o próximo número seria preto.
Sofrendo uma forma econômica de seleção natural, ele logo foi
separado de suas economias.
***
14.
Ad populum
Você
apela para a popularidade de um fato, no sentido de que muitas
pessoas fazem/concordam com aquilo, como uma tentativa de validação
dele.
A
falha nesse argumento é que a popularidade de uma ideia não tem
absolutamente nenhuma relação com a sua validade. Se houvesse, a
Terra teria se feito plana por muitos séculos, pelo simples fato de
que todos acreditavam que ela era assim.
Exemplo:
Luciano, bêbado, apontou um dedo para João e perguntou como é que
tantas pessoas acreditam em duendes se eles são só uma superstição
antiga e boba. João, por sua vez, já havia tomado mais Guinness do
que deveria e afirmou que já que tantas pessoas acreditam, a
probabilidade de duendes de fato existirem é grande.
***
15.
Apelo à autoridade
Você
usa a sua posição como figura ou instituição de autoridade no
lugar de um argumento válido. (A popular "carteirada".)
É
importante mencionar que, no que diz respeito a esta falácia, as
autoridades de cada campo podem muito bem ter argumentos válidos, e
que não se deve desconsiderar a experiência e expertise do outro.
Para
formar um argumento, no entanto, deve-se defender seus próprios
méritos, ou seja, deve-se saber por que a pessoa em posição de
autoridade tem aquela posição. No entanto, é claro, é
perfeitamente possível que a opinião de uma pessoa ou instituição
de autoridade esteja errada; assim sendo, a autoridade de que tal
pessoa ou instituição goza não tem nenhuma relação intrínseca
com a veracidade e validade das suas colocações.
Exemplo:
Impossibilitado de defender a sua posição de que a teoria evolutiva
"não é real", Roberto diz que ele conhece pessoalmente um
cientista que também questiona a Evolução e cita uma de suas
famosas falas.
Exemplo
2: Um professor de matemática se vê questionado de maneira
insistente por um aluno especialmente chato. Lá pelas tantas,
irritado após cometer um deslize em sua fala, o professor argumenta
que tem mestrado pós-doutorado e isso é mais do que suficiente para
o aluno confiar nele.
***
16.
Composição/Divisão
Você
implica que uma parte de algo deve ser aplicada a todas, ou outras,
partes daquilo.
Muitas
vezes, quando algo é verdadeiro em parte, isso também se aplica ao
todo, mas é crucial saber se existe evidência de que este é mesmo
o caso.
Já
que observamos consistência nas coisas, o nosso pensamento pode se
tornar enviesado de modo que presumimos consistência e padrões onde
eles não existem.
Exemplo:
Daniel era uma criança precoce com uma predileção por pensamento
lógico. Ele sabia que átomos são invisíveis, então logo concluiu
que ele, por ser feito de átomos, também era invisível. Nunca foi
vitorioso em uma partida de esconde-esconde.
***
17.
Nenhum escocês de verdade...
Você
faz o que pode ser chamado de apelo à pureza como forma de rejeitar
críticas relevantes ou falhas no seu argumento.
Nesta
forma de argumentação falha, a crença de alguém é tornada
impossível de falsificar porque, independente de quão convincente
seja a evidência apresentada, a pessoa simplesmente move a situação
de modo que a evidência supostamente não se aplique a um suposto
"verdadeiro" exemplo. Esse tipo de pós-racionalização é
um modo de evitar críticas válidas ao argumento de alguém.
Exemplo:
Angus declara que escoceses não colocam açúcar no mingau, ao que
Lachlan aponta que ele é um escocês e põe açúcar no mingau.
Furioso, como um "escocês de verdade", Angus berra que
nenhum escocês de verdade põe açúcar no seu mingau.
***
18.
Genética
Você
julga algo como bom ou ruim tendo por base a sua origem.
Esta
falácia evita o argumento ao levar o foco às origens de algo ou
alguém. É similar à falácia ad hominem no sentido de que ela usa
percepções negativas já existentes para fazer com que o argumento
de alguém pareça ruim, sem de fato dissecar a falta de mérito do
argumento em si.
Exemplo:
Acusado no Jornal Nacional de corrupção e aceitação de propina, o
senador disse que devemos ter muito cuidado com o que ouvimos na
mídia, já que todos sabemos como ela pode não ser confiável.
***
19.
Preto-ou-branco
Você
apresenta dois estados alternativos como sendo as únicas
possibilidades, quando de fato existem outras.
Também
conhecida como falso dilema, esta tática aparenta estar formando um
argumento lógico, mas sob análise mais cuidadosa fica evidente que
há mais possibilidades além das duas apresentadas.
O
pensamento binário da falácia preto-ou-branco não leva em conta as
múltiplas variáveis, condições e contextos em que existiriam mais
do que as duas possibilidades apresentadas. Ele molda o argumento de
forma enganosa e obscurece o debate racional e honesto.
Exemplo:
Ao discursar sobre o seu plano para fundamentalmente prejudicar os
direitos do cidadão, o Líder Supremo falou ao povo que ou eles
estão do lado dos direitos do cidadão ou contra os direitos.
***
20.
Tornando a questão supostamente óbvia
Você
apresenta um argumento circular no qual a conclusão foi incluída na
premissa.
Este
argumento logicamente incoerente geralmente surge em situações onde
as pessoas têm crenças bastante enraizadas, e por isso consideradas
verdades absolutas em suas mentes. Racionalizações circulares são
ruins principalmente porque não são muito boas.
Exemplo:
A Palavra do Grande Zorbo é perfeita e infalível. Nós sabemos
disso porque diz aqui no Grande e Infalível Livro das Melhores e
Mais Infalíveis Coisas do Zorbo Que São Definitivamente Verdadeiras
e Não Devem Nunca Serem Questionadas.
Exemplo
2: O plano estratégico de marketing é o melhor possível, foi
assinado pelo Diretor Bam-bam-bam.
***
21.
Apelo à natureza
Você
argumenta que só porque algo é "natural", aquilo é
válido, justificado, inevitável ou ideal.
Só
porque algo é natural, não significa que é bom. Assassinato, por
exemplo, é bem natural, e mesmo assim a maioria de nós concorda que
não é lá uma coisa muito legal de você sair fazendo por aí. A
sua "naturalidade" não constitui nenhum tipo de
justificativa.
Exemplo:
O curandeiro chegou ao vilarejo com a sua carroça cheia de remédios
completamente naturais, incluindo garrafas de água pura muito
especial. Ele disse que é natural as pessoas terem cuidado e
desconfiarem de remédios "artificiais", como antibióticos.
***
22.
Anedótica
Você
usa uma experiência pessoal ou um exemplo isolado em vez de um
argumento sólido ou prova convincente.
Geralmente
é bem mais fácil para as pessoas simplesmente acreditarem no
testemunho de alguém do que entender dados complexos e variações
dentro de um continuum.
Medidas
quantitativas científicas são quase sempre mais precisas do que
percepções e experiências pessoais, mas a nossa inclinação é
acreditar naquilo que nos é tangível, e/ou na palavra de alguém em
quem confiamos, em vez de em uma realidade estatística mais
"abstrata".
Exemplo:
José disse que o seu avô fumava, tipo, 30 cigarros por dia e viveu
até os 97 anos -- então não acredite nessas meta análises que
você lê sobre estudos metodicamente corretos provando relações
causais entre cigarros e expectativa de vida.
***
23.
O atirador do Texas
Você
escolhe muito bem um padrão ou grupo específico de dados que sirva
para provar o seu argumento sem ser representativo do todo.
Esta
falácia de "falsa causa" ganha seu nome partindo do
exemplo de um atirador disparando aleatoriamente contra a parede de
um galpão, e, na sequência, pintando um alvo ao redor da área com
o maior número de buracos, fazendo parecer que ele tem ótima
pontaria.
Grupos
específicos de dados como esse aparecem naturalmente, e de maneira
imprevisível, mas não necessariamente indicam que há uma relação
causal.
Exemplo:
Os fabricantes do bebida gaseificada Cocaçúcar apontam pesquisas
que mostram que, dos cinco países onde a Cocaçúcar é mais
vendida, três estão na lista dos dez países mais saudáveis do
mundo, logo, Cocaçúcar é saudável.
***
24.
Meio-termo
Você
declara que uma posição central entre duas extremas deve ser a
verdadeira.
Em
muitos casos, a verdade realmente se encontra entre dois pontos
extremos, mas isso pode enviezar nosso pensamento: às vezes uma
coisa simplesmente não é verdadeira, e um meio termo dela também
não é verdadeiro. O meio do caminho entre uma verdade e uma mentira
continua sendo uma mentira.
Exemplo:
Mariana disse que a vacinação causou autismo em algumas crianças,
mas o seu estudado amigo Calebe disse que essa afirmação já foi
derrubada como falsa, com provas. Uma amiga em comum, a Alice,
ofereceu um meio-termo: talvez as vacinas causem um pouco de autismo,
mas não muito.
***
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