sábado, 6 de junho de 2020

LEIA MEU TEXTO antes de ver o video de Dicas de redação de Felipe Araújo

ATENÇÃO!!! Leia antes de assistir a esse vídeo. 

Gosto bastante da iniciativa deste rapaz do Recife - FELIPE ARAÚJO, mas reconheço como problemático determinadas "dicas" que ele dá para o estudante tirar nota mil.

Sempre ensino que a redação (Enem e vestibular) se trata de um texto objetivo e técnico. Como texto técnico, um bom resultado é produto de treino e não de um "talento natural" para escrita. A dissertação tem uma natureza esquemática; contudo, o que Felipe propõe é uma armação fechada como uma moldura, ou melhor, mais parecido com aqueles modelos de "letra vazada": mantém tudo o mesmo em volta e as lacunas (ou espaços vazados) devem ser preenchidas com as palavras ou temas pedidos no respectivo ano. Algo absurdo.

Há bons apontamentos dados por ele, que se os alunos souberem se apropriar (e depois de compreendido até descartar), poderão contribuir para construção de um texto aceitável. Mas agora, vamos aos problemas.

Seu modelo resulta em uma gambiarra que não traz no final uma reflexão real sobre o tema, pois todo fundamentado em "clichês", lugares-comuns, frases feitas, observações genéricas, formuláicas.

Um corretor atento logo vai perceber a "falcatrua", já que o modelo final será produto de um estudante incapaz de escrever por si só um texto, elaborar e expressar sua visão crítica de mundo. Pior, se o corretor tiver assistido a esse vídeo, não me espantaria que ele zerasse a redação do candidato não só por plágio, mas por representar uma forma de burlar o processo legítimo de avaliar a capacidade de um estudante de compôr um texto. 

Então por que estou postando esse vídeo? Porque recebi redações feitas neste modelo (com as mesmas palavras e alusões). Ao pedir ao aluno que fizesse uma redação fora desse esquema, simplesmente ele foi incapaz de redigir um texto. É como alguém que sabe desenhar um rosto muito bem, mas só consegue desenhar o mesmo rosto, nenhum outro que se apresentar diante de si ou que vir numa foto ou revista.

Não adiante querer se autoenganar. Você precisa aprender a fazer redação pois durante todo o período na faculdade será obrigado a produzir textos dissertativos, mesmo que seu curso seja Matemática. Seu trabalho de conclusão de curso (TCC) ou tese terão que ser escritos em linguagem, forma e estrutura de texto dissertativo argumentativo. Portanto, acho perigoso um aluno apanhar uma "aula" do Felipe e achar que sabe fazer redação. Não adianta achar que de fato "está sendo esperto" enganando o corretor, quando na verdade neste "jeitinho brasileiro" está se autoiludindo. 

O mais interessante é que Felipe não precisa desse modelo. Ele próprio sabe fazer redações, tem boa leitura (de filosofia e literatura) e é capaz de fazer dezenas de variações deste modelo. Ele comete erros botando uma série de arcaísmos (expressões datadas, como "precipuamente", mister, etc) no texto (por achar "bonito"), mas definitivamente, ele não precisa mais deste modelo. Essa ideia de obrigatoriedade de citação é uma bobagem, por exemplo, pois várias redações tiraram notas mil sem citações ou dados estatísticos. Agora imagine que um corretor pegue várias redações com mesmas referências, palavras e esquemas? Resultado:  redações zeradas ou com notas baixíssimas na certa.

A didática dele é boa, o modo comoexplica as partes da redação podem ser úteis, e há várias coisas que diz são pertinentes e podem ajudar para um estudante que desconhece estrutura dissertativa, mas não vá cair na armadilha do recorta e cola e achar que vai se dar bem.




 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

INTERPRETAÇÃO. O sentido literal