Andar
(ou desandar) com fé?
A
intolerância religiosa tem ascendido de modo preocupante no Brasil,
nas últimas décadas. País originalmente cristão, embora permeado
por fortes influências africanas e outros credos, assiste hoje ao
crescimento de religiões persecutórias que estimulam a desagregação
e desrespeito a outras crenças.
A
colonização portuguesa, para além da exploração da terra, tinha
como um objetivo a conversão dos indígenas à fé cristã. Isso não
se fazia de forma espontânea ou pacífica, já que os colonizadores
impunham seus dogmas. O tráfico negreiro trouxe para o Brasil
diversos povos que, mesmo submetidos a tais dogmas, se apropriaram do
imaginário cristão, fundindo a ele suas crenças (perseguidas)
dando origem ao Candomblé e a Umbanda. Imigrações posteriores
trouxeram igualmente as religiões no país.
Se
o sincretismo religioso foi uma forma de conciliar diferentes visões
e práticas de devoção, a tolerancia sempre foi aparente no Brasil.
Várias doutrinas foram perseguidas/combatidas sempre pela religião
dominante, cuja Bíblia é seu totem. Embora seja garantido
constitucionalmente o livre exercício de credo e práticas
religiosas, um protestantismo conservador tem ameaçado tal direito
por meio de um discurso preconceituoso e racista difundido em templos
e canais televisivos.
Igrejas
são constituições que abarcam valores morais e éticos, contudo,
podem induzir tabus, preconceitos e posições radicais e extremistas
aos seus adeptos. Embora permitam a inclusão dos desvalidos,
propiciem proteção e apoio, além de reforçar o sentido de
comunidade, são instrumentos também de alienação, e até de
exploração econômica via dízimo e doações. A teologia da
prosperidade, versão utilitária e materialista da fé, tem
produzido templos megalomaníacos e levado a ocupar cargos políticos,
entronando líderes religiosos que hostilizam e demonizam outros
credos.
A
preocupante intolerância entre religiões no Brasil, principalmente
das religiões que perseguem judeus, espiritas e católicos, precisa
ser combatida com a lei, com sanções e punição aos hipócritas e
oportunistas fazem da fé um instrumento de lucro pessoal e
disseminação do ódio e da intolerância. Reforçar o Estado laico
é, contraditoriamente, uma forma de garantir a liberdade religiosa,
democraticamente instituída a todos, forma, portanto, de valorizar a
diversidade cultural e religiosa brasileira.
[Feita coletivamente com a turma do noturno Mauá, 2016]
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