A Ciência sofre um crescente desprestígio na contemporaneidade, já que - num mundo cada vez mais complexo, vertiginoso e de mudanças aceleradas, - o homem se sente tanto impotente quanto ameaçado por ela. Sua negação - e/ou busca de respostas através de crenças místicas e religiões seculares - aponta para uma reação do homem contemporâneo à tecnologia e ao "racionalismo" moderno que teme.
Se a princípio, os avanços tecnocientíficos se mostravam como resposta a todos os problemas humanos, contraditoriamente, criaram outros impensáveis. A ameaça nuclear, o degelo polar (devido ao aumento da emissão de gases e destruição da camada de ozônio) e o desmatamento/desertificação do planeta com extinção de animais são exemplos. O surgimento de megalópoles hiper-populosas e violentas, com fábricas poluidoras e rotina de trabalho estafante, também ampliaram as angústias do homem pelo declínio da qualidade de vida. O saudosismo de um passado, - aparentemente mais simples e puro, com contato com a natureza, tratos humanos diretos e valores universais, - fortaleceu discursos conservadores de influenciadores digitais, políticos obscurantistas e gurus oportunistas.
A ignorância, a superstição e o fanatismo, contudo, alienou a muitos que, saudosos de uma divina providência mediadora das injustiças mundanas, de um deus protetor ou de um líder político messiânico, passaram a distorcer a realidade e perseguir a todos contrários a valores e dogmas. Terminaram por culpar, portanto, a Ciência, já que a essa cabia amparar e promover o bem-estar social, o que de fato ela não cumpriu não só por estar distante do homem comum, mas por ser dirigida/financiada por grandes grupos econômicos. Assim, ela se tornou a "inimiga" a ser combatida, materializada na figura de pesquisadores, cientistas, professores, laboratórios e instituições universitárias; quando o correto seria garantir sua ampla democratização, a fim que não se tornasse mero mecanismo de obtenção de lucro para alguns privilegiados.
A internet propiciou um acesso à informação jamais visto na História. A propagação de desinformação em larga escala (em "fake news" e teorias conspiratórias), contudo, foi amplificada justamente em redes virtuais, tomada por negacionistas de pesquisas, estatísticas e dados científicos até então incontestáveis. Hoje, a negação do Aquecimento global, os movimentos antivacinação e a crença na Terra plana revelam a desconfiança e a descrença da Ciência. Tal retrocesso, impede medidas objetivas de combates a problemas reais do planeta, da medicina, da sociedade.
O desprestígio da Ciência e da Tecnologia, portanto, reflete o desconforto e as angústias geradas por mudanças radicais e abruptas da contemporaneidade, de um mundo cada vez mais violento onde todas as verdades parecem contestáveis. O Ministério da Educação deve fortalecer o sistema educacional para garantir a formação de um cidadão mais crítico com a realidade. Além disso, abrir espaços para visitação à museus e à universidade ao público geral, com palestras e divulgação (via mídia) do que se produz em ciência e tecnologia são medidas estratégicas para combater a "lavagem cerebral" das comunidades mistificadoras, guiadas por influenciadores digitais desqualificados, falsos "filósofos" e profetas apocalíticos. Há, mais do que nunca, a necessidade de se proteger o conhecimento obtido por séculos da ignorância e do anti-intelectualismo acéfalo que ameaça - com seu obscurantismo - o futuro da humanidade.
Redação coletiva realizada com turma do Tatuapé - Tarde.
Nenhum comentário:
Postar um comentário