A diversidade étnica e cultural dos brasileiros tem uma dívida histórica com os povos originários, já que, de certo modo “nós” também somos “eles”. O nosso afastamento cultural, entretanto, faz com que não só desvalorizemos nossas raízes indígenas, mas também sejamos omissos em relação ao seu genocídio capitaneado pelo desmatamento, pela negligência governamental e pela ameaça do narcotráfico.
A colonização portuguesa foi extremamente selvagem e sanguinária, visto que impôs sua religião sobre os povos indígenas, escravizou-os para extração do pau-brasil, promoveu seu escorraçamento do litoral e exterminou (até com epidemias) nações inteiras. Passados mais de cinco séculos, tal etnocídio permanece em curso. De acordo com a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), hoje os indígenas representam 0,47% da população brasileira e usufruem apenas de 13% do território nacional.
Tanto o escritor romântico José de Alencar, autor de “Iracema” e de “O Guarani”, como autores modernistas apropriaram-se da imagem do índio não só para efetuar a refundação mítica do Brasil, mas para definir o caráter nacional brasileiro. Apesar de obras impactantes como “Macunaíma” e “Cobra Norato” - e do conceito de antropofagia - os modernistas, mesmo que mais críticos, assim como seus predecessores, ignoraram - ou melhor: omitiram - o genocídio dos povos originários, optando por apagar sua imagem real/original e favorecendo uma visão idealizada, distorcida e irreal.
É importante ressaltar que a valorização da cultura indígena é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. É preciso reconhecer a contribuição dos povos originários para a formação da identidade brasileira e lutar contra o genocídio e a discriminação que ainda sofrem. Apenas assim poderemos construir um futuro melhor para todos os brasileiros.
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