A diversidade étnica e cultural do brasileiro está intrinsecamente ligada aos povos ameríndios; entretanto, tal contribuição não é devidamente valorizada. O predomínio de uma visão eurocêntrica de cultura e desenvolvimento, o pouco contato e informação sobre esses povos e a dificuldade de acesso à sua cosmovisão são os principais fatores.
A colonização portuguesa foi extremamente brutal e selvagem na América. Escravizaram os indígenas, apropriaram-se de seu território, impuseram sua religião e suas leis, dizimaram nações inteiras (até por epidemias) e promoveram seu escorraçamento para o centro do país. Se o Romantismo e o Modernismo os resgataram como símbolo da fundação do Brasil e definidor do caráter nacional (Macunaíma, de Mário de Andrade, e o conceito Wosvaldiano de Antropofagia), na prática, produziram uma visão fantasiosa/idealizada que mais os distanciou da nação real, que sempre teve mais orgulho de suas raízes ibéricas e europeias.
Hoje, o genocídio indígena está em pauta, já que o aumento do desmatamento da Amazônia, por madeireiras ilegais, do garimpo e da mineiração, da expansão do agronegócio e até do narcotráfico os têm ameaçado. Em vez de ampara-los, o Estado tornou-se inimigo, visto que desmontou a rede de proteção e órgãos como a FUNAI. Tal ofensiva tem mobilizado bem mais o exterior do que o cidadão brasileiro que não reconhece a contribuição indígena para o idioma que fala, sua gastronomia, hábitos de higiene, brincadeiras e jogos tradicionais, mitos e uso de ervas e chás medicinais.
Os indígenas não só garantem a proteção da floresta, mas também são responsáveis por sua manutenção. São adaptados à ela e apresentam uma cosmovisão indissociável da natureza. Embora grupos missionários busquem evangelizá-los - nova "roupagem" para a velha prática da catequização - seguem resistindo, cultuando seus ancestrais míticos, exercendo rituais xamânicos que os conectam com a fauna, a flora e o próprio espaço geográfico. Há, em muitos brasileiros (mesmo cristãos) a crença em espíritos ancestrais, sejam seus pais ou avós, que os protegem. Ignoram que isso seja herança indígena.
(Aeon turma Med manhã)
Nenhum comentário:
Postar um comentário