terça-feira, 2 de junho de 2015

REDAÇÃO. Tema específico: A imprensa caluniadora do presidente Lula (redação de 2004)

QUANDO O CONTRA-SENSO ÉTICO ENCONTRA O ETÍLICO


     Um artigo do “The New York Times” (NYT), a insinuar uma prossível dependência etílica do presidente Luís Inácio Lula da Silva, causou grande indignação no país, também pela reação intempestiva do presidente. O ato e seu desdobramento fomentaram discussões diversas sobre ética jornalística e arbitrariedade política.
     A matéria do NYT comunicava aos EUA e ao mundo, que nós brasileiros estaríamos preocupados com o abuso de álcool pelo presidente; o que não correspondia à realidade. Contrariando a lógica na qual fato precede à notícia, foi sua tradução, logo difundida com alarde pela imprensa do país, a nos "informar" do pretenso "problema nacional". Especulativo, mal-redigido e parcial, o texto trazia a imagem descontextualizada de Lula, rubro e sorridente, ostentando uma grande taça borbulhante (a abrir a "Oktoberfest"); e os “depoimentos” infames de opositores notórios do governo e seu partido (PT). Mais que perversa, era o paradigma máximo da falta de ética jornalística, pela deturpação dos fatos, difusão de preconceito e manipulação ideológica.
     A reação do presidente foi a pior possível. Após ver negada a retratação formal pelo NYT; articulou o cancelamento do visto do autor da matéria. A medida se justificava, pois, mais que uma afronta pessoal, a matéria representava um ataque a uma instituição do país, ¾ seu representante máximo, ¾ e estava permeada por interesses de desacreditá-lo internacionalmente. A imprensa brasileira reagiu, aludindo aos abusos da Ditadura, acusando de autoritária e anti-democrática tal decisão.
     Sem defender tal ato, e menos ainda o jornalista ¾ que de vilão passou a mártir, ¾ pensamos que a falha é dupla: do governo e da imprensa. Ambos deram amplidão a um fato que deveria ser conduzido racionalmente, sem reações emocionais contraproducentes e infantis, sem ser “espetacularizado”, a ponto de desestabilizar um governo, e conseqüentemente um país, já fragilizado sócio, político e economicamente.
     Se irresponsáveis foram o jornalista e o NYT, seriam, por meios diplomáticos, e não pelo tolhimento de “liberdades e direitos” (matrizes de um Estado democrático), obtidas as possíveis soluções para o problema. Do mesmo modo, a imprensa ¾ mais que marrom, negra, ¾ deveria abdicar ao papel de juiz (ou de “Quarto Poder”), que não lhe cabe; e assim, reportar a realidade, tornar visíveis as questões de relevância nacional, fomentar debates, com imparcialidade e comedimento ético. Isto não é pouco, ainda mais num mundo que tem o NYT como porta-voz, motivo melhor para permanecermos sóbrios e atentos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

INTERPRETAÇÃO. Quadrinho

  O quadrinho tanto aborda a questão do plágio (um ratinho assume como seu a autoria de um texto que é da escritora Clarice Lispector), mas ...