QUANDO O
CONTRA-SENSO ÉTICO ENCONTRA O ETÍLICO
Um artigo do “The New York Times” (NYT), a insinuar uma prossível dependência etílica do presidente Luís Inácio Lula da Silva, causou grande indignação no país, também pela reação intempestiva do presidente. O ato e seu desdobramento fomentaram discussões diversas sobre ética jornalística e arbitrariedade política.
A matéria do NYT comunicava aos EUA e ao mundo, que nós
brasileiros estaríamos preocupados com o abuso de álcool pelo presidente; o que não correspondia à realidade. Contrariando a
lógica na qual fato precede à notícia, foi sua tradução, logo
difundida com alarde pela imprensa do país, a nos "informar" do
pretenso "problema nacional". Especulativo, mal-redigido e
parcial, o texto trazia a imagem descontextualizada de Lula, rubro e
sorridente, ostentando uma grande taça borbulhante (a abrir a
"Oktoberfest"); e os “depoimentos” infames de
opositores notórios do governo e seu partido (PT). Mais que
perversa, era o paradigma máximo da falta de ética jornalística,
pela deturpação dos fatos, difusão de preconceito e manipulação
ideológica.
A reação do presidente foi a pior possível. Após ver negada a
retratação formal pelo NYT; articulou o cancelamento do visto do
autor da matéria. A medida se justificava, pois, mais que uma
afronta pessoal, a matéria representava um ataque a uma instituição
do país, ¾ seu representante máximo, ¾ e estava permeada por
interesses de desacreditá-lo internacionalmente. A imprensa
brasileira reagiu, aludindo aos abusos da Ditadura, acusando de
autoritária e anti-democrática tal decisão.
Sem defender tal ato, e menos ainda o jornalista ¾ que de vilão
passou a mártir, ¾ pensamos que a falha é dupla: do governo e da
imprensa. Ambos deram amplidão a um fato que deveria ser conduzido
racionalmente, sem reações emocionais contraproducentes e infantis,
sem ser “espetacularizado”, a ponto de desestabilizar um governo,
e conseqüentemente um país, já fragilizado sócio, político e
economicamente.
Se irresponsáveis foram o jornalista e o NYT, seriam, por meios
diplomáticos, e não pelo tolhimento de “liberdades e direitos”
(matrizes de um Estado democrático), obtidas as possíveis soluções
para o problema. Do mesmo modo, a imprensa ¾ mais que marrom, negra,
¾ deveria abdicar ao papel de juiz (ou de “Quarto Poder”), que
não lhe cabe; e assim, reportar a realidade, tornar visíveis as
questões de relevância nacional, fomentar debates, com
imparcialidade e comedimento ético. Isto não é pouco, ainda mais
num mundo que tem o NYT como porta-voz, motivo melhor para
permanecermos sóbrios e atentos.
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