O cidadão pede passagem
As manifestações populares ocorridas recentemente no
Brasil são resultantes de um profundo desencanto do cidadão com os
rumos do país. A mobilização contra o aumento da passagem, a
indignação ante a repressão do Estado e a ampliação das pautas
foram as três grandes fases deste movimento.
Convocados inicialmente pelo "Movimento Passe
Livre" (MPL), o foco inicial do protesto era a redução de
vinte centavos na tarifa de transporte público. A reação
despropositada do governo e a manipulação dos fatos pela mídia
acirraram, contudo, os ânimos dos manifestantes. Chamados pela mídia de
"baderneiros", "vândalos" e "militantes
anacrônicos", como se não fossem "cidadãos" no
exercício democrático de seu direito de expressão, muitos foram
perseguidos, censurados e agredidos.
O uso da força pela PM
e Tropa de Choque no combate violento a cidadãos desarmados, conforme as ordens do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, só
tiveram repercussão graças a divulgação de imagens pela internet. Já a grande imprensa, reacionária e tendenciosa, somente alterou seu discurso diante do número crescente de manifestantes que foram às ruas em protesto. Não foi o repúdio da população jovem à cobertura televisiva reacionária e tendenciosa que a "reorientou", mas o fato de que muitos de seus jornalistas foram alvejados pela
polícia e impedidos de noticiar a ação repressiva do Estado.
As manifestações, inicialmente tímidas, alastraram-se
nas principais capitais do país, e atingiram regiões distantes (e
normalmente esquecidas), como o Acre e Ceará. Ao se tornar nacional, as pautas se ampliaram em reivindicação de melhorias da Saúde e da Educação; em repúdio à PEC-37 (Proposta de Emenda Constitucional, por ser votada) e até contra a corrupção e os gastos abusivos na
Copa mundial. Houve, portanto, em todo o país, a expressão de um descontentamento em relação ao crescimento econômico sem reflexo na
melhoria da condição de vida dos cidadãos.
Ao contrário da invisibilidade dos atos políticos (e
apartidários) na mídia tradicional, a internet foi o espaço de
mobilização, difusão de ideias e vitrine do que ocorria nas ruas.
Não foi o gigante nacionalista e cego que acordou, mas,
possivelmente, uma juventude mais questionadora e atuante, desejosa
de ser ouvida e que faz da força coletiva um instrumento de
transformação do país.
Redação de 2013.
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