sábado, 23 de novembro de 2019

Um depoimento do Facebook no Dia da Consciência Negra

Este é o meu pai, Carlos Pereira da Silva, nasceu em 10/04/1914, faleceu em 1981 aos 67 anos, na 4ª série primária, e isso porque cursou o Mobral e a escola após os 40 anos, se estivesse vivo, hoje estaria com 105 anos.
Ainda não descobri de onde vieram esses sobrenomes. Da África não foi.

A abolição se deu em 1888. Ouvi meu pai dizer que a mãe dele (minha avó) nasceu livre, mas que a mãe dela (minha bisavó) tinha sido escravizada. Portanto, sou a terceira geração nascida em liberdade.

Eu nunca ouvi ele falar sobre indenizações do governo ou de algum sinhozinho ou sinhazinha (brancos) pelo trabalho escravo realizado pelos meus ancestrais raptados da África.

Estudando um pouco, entendi porque as minhas avós não sabiam ler e do meu pai aprender a ler depois de adulto.
E de não possuir propriedade.

Havia uma lei que proibia os negros de frequentar escolas, porque eram escravos ou porque essa lei afirmava que os negros eram portadores de moléstias contagiosas.
Outras que proibiam de dar emprego, alugar ou vender imóveis.
E ainda tinha a lei que proibia cultuar religiões diferente da Católica.
Havia lei que proibia falar o idioma africano de origem ou de usar o nome da família ancestral africana, e que só poderiam usar o nome "cristão" e português.

Dessa forma, é praticamente impossível um africano nascido no Brasil, como eu, identificar o país africano de origem, bem como requerer uma dupla cidadania como ocorrem com as pessoas europeias nascidas no Brasil.

Ademais, falando em catolicismo, foi o Papa Nicolau IV, que editou o 1º documento legitimando a captura de negros africanos pra reduzí-los a ESCRAVIDÃO PERPÉTUA, com o edito e promulgação da BULA DUM DIVERSAS.

Diante de tanta desqualificação forçada, fizeram a Lei da Vadiagem para prender os desempregados, lógico que eram os negros.

E nesse mesmo tempo, o Brasil trazia imigrantes brancos da Europa, com tudo pago, trabalho garantido, terras e insumo, escolas para os filhos e com mesada para se estabelecerem da forma mais confortável e privilegiadas que pudessem
Nos termos do Decreto 528/1890.

Entende agora porque nos mais altos salários, cargos políticos e públicos dos diversos órgãos do estado e do empresariado só tem pessoas com sobrenomes esquisitos, de pronúncias complicadas de sobrenomes estrangeiros, não português, que quase ninguém tem igual?

Por exemplo: pesquise os sobrenomes dos juízes, dos membros do Ministério Público, dos membros das Defensoria Públicas.
Busque também os sobrenomes dos maiores banqueiros e empresários do Brasil.

O objetivo do governo brasileiro era de branquear (Eugenia) o Brasil e em 100 anos eliminar os negros pela fome, pela doença, pelo encarceramento e pela morte por intervenção policial.

Dessa forma legitimaram a exclusão dos negros ao acesso a educação, qualificação, empregabilidade e habitação.

O Brasil chegou a ter até uma Constituição Eugênica.

Não fosse o grande poder de sobrevivência e de resistência de nós, os negros, o Brasil seria hoje como a Argentina, que não se vê negros naquele lugar! Na Argentina só há pessoas brancas, e é um país que praticou a escravização de pessoa negras africanas.

Pra quem quiser saber mais um pouco sobre a consciência negra despertada e desenvolvida em mim.

Porquê estou digitando no celular enquanto as palavras vão surgindo em minha mente. Lá vai a síntese copiada de um texto que tirei da página Quebrando o Tabu, mas cuja a confiabilidade posso confirmar em razão de combinarem com as minhas antigas fontes de pesquisas.

"1837 - Primeira lei de educação: negros não podem ir à escola

1850 - Lei das terras: negros não podem ser proprietários

1871 - Lei do Ventre Livre - quem nascia livre?

1885 - Lei do Sexagenário - quem sobrevivia para ficar livre?

1888 - Abolição (atentem, foram 388 anos de escravidão)

1890 - Lei dos vadios e capoeiras - os que perambulavam pelas ruas, sem trabalho ou residência comprovada, iriam pra cadeia. Eram mesmo "livres"? Dá para imaginar qual era a cor da população carcerária daquela época? Vc sabe a cor predominante nos presídios hoje?

1968 - Lei do Boi: 1a lei de cotas! Não, não foi pra negros, foi para filhos de donos de terras, que conseguiram vaga nas escolas técnicas e nas universidades (volte e releia sobre a lei de 1850!!!)

1988 - Nasce nossa ATUAL CONSTITUIÇÃO. Foram necessários 488 anos para ter uma constituição que dissesse que racismo é crime! Na maioria das ocorrências se minimiza o racismo enquanto injúria racial e nada acontece.

2001 - Conferência de Durban, o Estado reconhece que terá que fazer políticas de reparação e ações afirmativas. Mas, não foi porque acordaram bonzinhos! Não foi sem luta. Foram décadas de lutas para que houvesse esse reconhecimento! E olha que até hoje tem gente que ignora, hein!

2003 - Lei 10639 - estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira". Que convenhamos não é cumprida, né?

2009 - 1ª Política de Saúde da População Negra. Que prossegue sendo negligenciada e violentada (quem são as maiores vítimas da violência obstétrica?) no sistema de saúde.

2010 - Lei 12288 - Estatuto da Igualdade Racial. Em um país que se nega a reconhecer a existência do racismo.

2012 - Lei 12711 - Cotas nas universidades. A revolta da casa grande sob um falso pretexto meritocrata.

Nossa sociedade é racista e ainda escravocrata e essa linha do tempo tá aí pra evidenciar.
Por Leandro Ribeiro"

Neste sentido, Consciência Negra é não esquecer o que fizeram contra a minha família africana e a de todos os meus semelhantes africanos no passado e na atualidade!

Nunca esquecerei e não deixarei a minha descendência esquecer tão grande mal!


Melque Silva

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