Santos/SP, 28 de outubro de 2021.
A
Vossa Senhoria Diretora Maria Eusébia
Meu nome é Fulano de Tal, sou representante do 3° C noturno e venho, por meio desta carta, solicitar a revogação da suspensão imposta à nossa colega de turma, Sicrana de Tal. Na última quarta-feira, houve um episódio constrangedor em nossa escola quando tal estudante foi, não só impedida de assistir a aula, mas retirada da sala pela coordenação, devido ao fato de estar trajando um uniforme feminino - pelo que foi considerado pela direção - "em desacordo" com o seu gênero/sexo biológico.
Embora o colégio Maria Pia seja uma instituição católica, tradicionalista e conservadora - e exija o uso de uniforme com gênero demarcado "masculino e feminino", - não pode estar "fechada" às mudanças comportamentais (e jurídicas) do século XXI. A estudante em questão passa por um momento de transição, ou seja, faz uso de hormônios, terapias e procedimento cirúrgicos de redesignação de gênero. Ela obteve em cartório, inclusive, seu "nome social", que é o modo como a pessoa se autoidentifica e é reconhecida, identificada, chamada e denominada na sua comunidade e meio social. Tal nome não é respeitado na chamada de classe, ato, portanto, ilegal.
O Brasil é o país que mais mata transexuais (e a comunidade "LGBTQIA+") no mundo. Tal violência é motivada pela não aceitação à diferença, pelo preconceito e intolerância aos que divergem do que uma maioria heteronormativa cisgênero considera "normal". Portanto, a exclusão da estudante citada é inadmissível para uma instituição de ensino que deve formar cidadãos que respeitem a diversidade. Moral e dogmas religiosos não podem ser pretexto para infligir dor a outrem, posto que tolerância, respeito, solidariedade e amor são essencialmente valores cristãos.
Nossa escola notabiliza-se pela disciplina, rigor e qualidade educacional, entretanto, apresenta - infelizmente - traços autoritários e conflitantes com liberdades individuais como orientação sexual e identidade de gênero, portanto, precisa mudar. Desse modo, acreditamos que a instituição deve liberar Sicrana de Tal, acolhê-la devidamente, além de rever sua política de gênero - e uso de uniformes - a fim de dar exemplo de inclusão para, assim, fomentar princípios de empatia, respeito e amor ao próximo.
Sem mais, agradecemos a atenção e aguardamos uma resposta positiva para nossa solicitação.
Atenciosamente,
Fulano de Tal, representante do 3°C noturno.
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