Em “ O ateneu”, romance realista de Raul Pompeia, um garoto, vítima de humilhações e violências de toda ordem dos colegas, vinga-se jogando cacos de vidro na piscina do colégio, que no final do livro, incendiará Apesar da obra se passar em 1888, comprova que a prática do “bullying” perdura até a atualidade. Portanto, é fundamental compreendermos o que o motiva, assim como o seu impacto na sociedade.
O mundo contemporâneo se caracteriza por mudanças galopantes, extrema competitividade e individualismo exacerbado. Nesse contexto, a família é profundamente impactada, já que crises econômicas condicionaram - tanto pais quanto mães - a longas horas de trabalho, o que faz com que negligenciem, consequentemente, o estar com os filhos. O resultado disso quase sempre são pessoas inaptas para o trato social, posto que não foram educadas/preparadas para o convívio coletivo. Portanto, o “bullying”, um ato de violência física ou psicológica, intencional e reiterado, cometido por um indivíduo ou grupo a outrem, nada mais é do que um reflexo desse processo.
Há centenas de filmes e séries que abordam o “ bullying” entre jovens, entretanto, por que o problema é tão pouco combatido na prática?. De acordo com o IBGE, 40% dos alunos brasileiros já sofreram bullying (dados de 2019). Tal ato covarde movido geralmente por preconceitos contra minorias (negros, pobres, deficientes, obesos, LGBT's) corrói a autoestima da vítima, muitas vezes para toda a vida. Medo, angústia, ansiedade, estresse, depressão, pânico, distúrbios alimentares e até tendências suicidas advém, em grande parte do “bullying”; sem mencionar os surtos homicidas que resultam em chacinas em escolas.
A prática da intimidação violenta contra os mais vulneráveis trata-se, portanto, de um problema social que deve ser combatido via políticas públicas. Cabe ao ministério da educação promover campanhas nacionais - através das mídias e internet - a fim de conscientizar a sociedade sobre as consequências nefastas do “bullying”. Além de estimular o maior convívio entre filhos e responsáveis, é preciso garantir capacitação dos docentes para lidar com o problema com o emprego de dinâmicas em grupo orientadas por psicopedagogos nas escolas. Assim, o que lemos na obra de Raul Pompeia ficará, definitivamente, apenas no campo da ficção.
(Maximize Paulista Manhã, novembro de 2022)
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