quinta-feira, 3 de novembro de 2022

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A copa do mundo e a autoestima do brasileiro

    A autoestima do brasileiro médio está profundamente relacionada com o futebol. A Copa do Mundo de 2022, no Catar, promete ser, não só um momento de catarse (já que passamos por uma pandemia), mas também de superação do traumático fiasco de 2014 - caso vençamos -, além da possibilidade de resgate dos símbolos nacionais "sequestrados" por grupos políticos.
    A origem do futebol moderno remonta à Inglaterra do século XIX, entretanto, práticas semelhantes já eram praticadas nos impérios Aztecas e Chinês, cada um tendo um significado cultural distinto. No Brasil contemporâneo, açoitado por crises, doenças e escândalos, o futebol tornou-se um "porto seguro" para os brasileiros. Nos 90 minutos de uma partida, há um momento de dispersão, no qual o torcedor pode esquecer de seus problemas fora do estádio e torcer pela vitória do seu time. 
    Após a conquista do pentacampeonato em 2002, o brasileiro tem anseio pelo sexto troféu, que foi esperado nas últimas quatro Copas do Mundo (e é almejado para a edição de 2022). Contudo, após a derrota para a Alemanha, no Rio de Janeiro, o sentimento de felicidade e esperança na vitória foi extinto, bem como sua autoestima. Nunca antes na história, o Brasil havia sido humilhado e posto em um patamar tão inferior em sua história futebolística.
    Segundo o sociólogo Sérgio Buarque de Holanda, o brasileiro, como povo cordial, não suporta viver na individualidade, necessitando estar no coletivo para se sentir completo. Com a pandemia do novo coronavírus e as medidas de contenção, o isolamento social deixou a população angustiada pelo momento do retorno à vida pré-pandêmica; e esse momento está chegando. Festas, bares lotados e comemorações, é dessa maneira que o brasileiro irá vibrar com os jogos e restaurar os sentimentos da última vitória.
    Percebe-se, então, que mesmo o Brasil sofrendo ano após ano por crises, o brasileiro encontra espaço para desestressar, e torcer para que sua seleção seja campeã e faça reacender a chama de orgulho nacional que foi dada pelo futebol ao Brasil, além de reunir e transformar uma sociedade apagada pela pandemia.













    O futebol em novos campos
A autoestima do brasileiro médio está profundamente relacionada com o futebol. A Copa do Mundo de 2022, no Catar, promete ser, não só um momento de catarse (já que passamos por uma pandemia), mas também de superação do traumático fiasco de 2014 - caso vençamos -, além da possibilidade de resgate dos símbolos nacionais "sequestrados" por grupos políticos.
   Em 2020, um novo vírus (Sars CoV 2) se disseminou globalmente, causando uma doença respiratória letal aos idosos e indivíduos com comorbidades. A pandemia da Covid-19 exigiu medidas de contenção e um radical isolamento social, que alterou profundamente as relações interpessoais. Embora a Copa do Mundo seja um evento competitivo, representará um encontro de diversas etnias, credos, culturas e ideologias. Tal congraçamento, em meio a um conflito na Europa, é uma oportunidade de expurgar o trauma da pandemia em uma catarse coletiva de celebração à vida.
    Há oito anos, quando sediava a Copa do Mundo, o Brasil foi humilhado internacionalmente pela Alemanha pelo 7x1. Se, o Brasil sempre se orgulhou da sua excelência futebolística, tal derrota levou o país à uma espécie de "depressão cívica". O fato de sermos um país de terceiro mundo, portanto pobre, profundamente desigual, assolado por uma corrupção estrutural e cristianismo fatalista, faz com que o título ganhe maior significação; portanto, uma suplência simbólica para carências extremas. 
    O hino, a bandeira e suas cores são símbolos nacionais que ganham as ruas, as roupas e os estádios em um espírito patriótico em jogos da seleção brasileira, que por um momento apaga as diferenças (ricos e pobres, negros e brancos, cristãos e umbandistas). Entretanto, desde 2018, tais símbolos foram apropriados por grupos políticos extremistas. Devido à polarização política, muitos passaram a associar o espírito antidemocrático desses radicais a esses símbolos, já que eram por eles usados em diversas manifestações político-partidárias. Portanto, resgatá-los em 2022 permitirá a desassociá-los de tais grupos.
    O futebol não é um mero esporte no Brasil, visto que ele está profundamente enraizado no caráter nacional brasileiro. A copa do Catar, portanto, tem seu sentido amplificado: descontando sua natureza de negócio e competição, se presta a promover a união de povos diversos. Para o Brasil, pode ser um momento de dupla redenção, a autoestima reconquistada - se vitoriosos -, e a reintegração da nação para além do campo político-ideológico.

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