quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

IDEIAS: Por que ‘opinião não é argumento’, segundo este professor de lógica da Unicamp

Beatriz Montesanti e Tatiana Dias

27 Dez 2016
(atualizado 27/Dez 17h58)

Em entrevista ao ‘Nexo’, Walter Carnielli explica como manter uma discussão respeitosa e produtiva



Não é fácil vencer uma discussão. Especialmente em um contexto inflamado, em que as opiniões se polarizam, notícias falsas se proliferam, debatedores recorrem a ofensas e sarcasmo e festas de fim de ano criam ambientes propícios para a briga.

Uma boa discussão, ao contrário do que a maior parte das pessoas pensa, não serve para a disputa - e, sim, para a construção do conhecimento. Nesse sentido, saber sustentar uma boa argumentação é fundamental.

“Um argumento é uma ‘viagem lógica’”, diz Walter Carnielli, matemático, professor de lógica na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e autor de “Pensamento crítico - o poder da lógica e da argumentação” (Editora Rideel), livro escrito em parceria com o economista e jurista americano Richard Epstein.

Para Carnielli, os brasileiros têm uma “péssima educação argumentativa”. Confundimos discussão com briga e não sabemos lidar bem com críticas. Mas há técnicas que podem ajudar na construção de bons argumentos - e também a evitar armadilhas comuns em uma discussão, como o uso de falácias.
Entre elas está, por exemplo, a busca por entender o ponto de vista oposto - ajudando, inclusive, o opositor na construção do próprio argumento. Nesta entrevista ao Nexo, o professor explica algumas delas:

O que é considerado um mau argumento?

Walter Carnielli Um argumento é uma ‘viagem lógica’' que vai das premissas à conclusão. Conforme a definição dada no nosso livro, um bom argumento é aquele em que há boas razões para que as premissas sejam verdadeiras, e, para além disso, as premissas apresentam boas razões para suportar ou apoiar a conclusão.

Em outras palavras, as premissas que você apresenta devem ser precisas e verdadeiras, e devem produzir uma razão para se pensar que a conclusão é verdadeira. Desse modo, há duas maneiras em que um argumento pode falhar, ou ser um mau argumento:
  1. Se as premissas forem falsas.
  2. Se as premissas não apoiam a conclusão.
Em geral as pessoas erram mais na parte 2: parece mais difícil decidir se as premissas apoiam ou suportam a conclusão do que verificar se elas são verdadeiras ou falsas.

Como desmontar um mau argumento de forma respeitosa e produtiva?

Walter Carnielli Existe um princípio metodológico importante na argumentação que é o Princípio da Acomodação Racional, também conhecido como Princípio da Caridade, e que foi tratado por filósofos de peso como Willard Van Orman Quine e Donald Davidson.

O princípio exige que devemos tentar entender o ponto de vista do oponente em sua forma mais forte e persuasiva antes de submeter sua visão à nossa avaliação. Dessa forma, devemos primeiro fazer todos os esforços para esclarecer as premissas e a conclusão do oponente, inclusive ajudando-o a reparar os pontos fracos. Só então, após essa atitude respeitosa, é que devemos gentilmente apontar a ela ou a ele onde suas premissas são falhas ou duvidosas, e/ou porque tais premissas não apoiam a conclusão.

Em outras palavras, o Princípio da Acomodação Racional impõe que interpretemos as afirmações dos outros de forma a maximizar a verdade ou racionalidade do adversário, tanto quanto isso seja possível. É a maneira mais respeitosa e produtiva de manter uma discussão honesta.

Quais são as falácias mais recorrentes?

Walter Carnielli  Nós, brasileiros, temos uma péssima educação argumentativa: confundimos discussão com briga, e vemos as críticas como inveja, falta de amizade, falta de amor etc. Pior ainda: quando começa uma discussão, muitas vezes vem o seguinte: ‘tenho o direito de ter minha opinião’, seja sobre o criacionismo, o governo, a política ou a pena de morte.

Claro que todos têm o direito de manter sua opinião, mas opinião não é argumento. A democracia também é feita de opiniões - ninguém precisa argumentar para votar no candidato que preferir, basta manifestar sua opinião nas urnas. Mas quando o candidato quer nos convencer, ou quando queremos convencer os outros sobre nossa posição política, nossa crenças não bastam.

Fora esta falácia estrutural tremenda, que revela que a pessoa sequer sabe o que é um argumento, algumas das falácias mais comuns são:
  • Ad Hominem: quando se ataca a pessoa, não o argumento. Por exemplo: “o médico me recomendou parar de fumar. Mas ele fuma!”
  • Falso dilema: quando se exageram os dois lados de uma questão, não deixando lugar para nuances ou meio-termo. Por exemplo: “você é a favor do aborto? Então você apoia o assassinato de crianças”.
  • Post hoc ergo propter hoc: ou seja, “depois disso, portanto por causa disso”. Por exemplo: “Hitler era vegetariano, e veja no que deu'”.
  • Inverter o ônus da prova: Por exemplo: "claro que OVNIs existem. Prove o contrário'.'
  • Falsa analogia: por exemplo, tentar comparar casamento homossexual com legalização da pedofilia.

Por que tanta gente recorre às falácias?

Walter Carnielli Há centenas de falácias conhecidas e estudadas, mas a lista é potencialmente infinita. Há falácias lógicas, falácias estruturais, falácias de analogia, falácias emocionais, etc. Uma falácia é um mau argumento que não pode ser reparado. As pessoas gostam das falácias com rótulos em latim, que soam poderosas, e supostamente são usadas por advogados, ou podem ser usadas para impressionar o oponente.

Quão relevante você acredita que é a lógica formal, dado o fato de pesquisas sugerirem que os mecanismos utilizados para formar opiniões não são racionais?

Walter Carnielli  Primeiramente, crenças não são argumentos, embora possam influir neles. Os mecanismos para formar opiniões podem não ser racionais, mas até nesse ponto a investigação lógica é essencial.

Por exemplo, existe uma racionalidade de como revisar suas próprias crenças  - a teoria de revisão de crenças - que são essenciais para computação teórica, por exemplo. Como podemos ‘explicar’ a um computador como ele deve rearranjar seus dados frente a novas informações? Ainda mais, as pessoas podem manter crenças verdadeiras por razões irracionais, ou manter crenças falsas por decisões racionais.

Some-se a tudo isso o fato de que o conhecimento é tradicionalmente visto como um tipo especial de crença, e que o problema das contradições na razão é também um importante tema da lógica.
A lógica formal, e a informal [presente na linguagem comum, que não utiliza nenhum tipo de técnica para ser apresentada], são importantíssimas para se investigar a razão humana.


FONTE AQUI.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

IDEIAS. Contra-argumentando uma "metáfora"




Na janela com Leda Nagle (ou: sobre a imprensa e a tevê)

 

 

Em seu programa de entrevistas no Canal Brasil, SEM CENSURA, meses antes de o tê-lo cancelado, defendendo o papel da imprensa e da televisão no caso do impeachment de Dilma, Leda Nagle usou a seguinte metáfora: "Não se deve culpar a janela pela paisagem"

Minha resposta para ela seria a seguinte: A janela enquadra e determina o que vai ser visto, efetua um recorte da realidade, limita e restringe ao morador da casa aquilo que pode ser avistado. Não bastasse isto, muitas vezes, dependendo do seu vidro, achata a perspectiva, deforma a vista para o que se avista, embaça, obscurece também, fazendo parecer noite o que é dia, feito óculos de sol. Sem esquecer as cortinas, que podem ser habilidosamente usadas para ocultar e barrar por completo o olhar. E a televisão, por si, precisa ser vista com desconfiança, com olhos espertos e bem atentos. 

IDEIAS. Charge de Edu


Entrevistadores perguntam a um administrador público "Que instrumentos o seu governo está usadno para levar a cabo reformas tão impopulares?", a resposta ("Basicamente gás lacrimogênio, mas também balas de borracha e spray de pimenta") revela o arsenal repressivo contra a população, e não "instrumentos" legais, como leis e medidas efetivas para gestão do país.

IDEIAS. Charge de Laerte


O cidadão ante a televisão que anuncia mudanças positivas no país, desvia os olhos para janela onde uma tempestade e um trovão anunciam tempestade. A tela de televisão com seu colorido contradiz o mundo real, cinzento do espectador. Também o fato do que se comunica sobre a previsão do tempo destoar do que se anuncia as costas do cidadão pela janela, torna falso e mentiroso tudo que a televisão noticia. Assim, num curto espaço do quadrinho, Laerte mostra a manipulação que a mídia faz da realidade, ocultando as mazelas do país.

Ideia. Resiliência.


Redação. TEMA: Queda da natalidade no mundo

A queda da natalidade

     A queda da natalidade no mundo está relacionada, entre outros fatores, à entrada da mulher no mercado de trabalho, à instabilidade econômica, além de mudanças comportamentais ligadas à ascensão do capitalismo.
     O ingresso de mulheres nas mais diversas áreas do campo profissional nos últimos trinta anos, mudou em definitivo as famílias e, portanto, a sociedade. Se antes o patriarcalismo as confinava ao lar (como responsáveis pelas atividades domésticas, criação/educação dos filhos), o trabalho e a carreira profissional alteraram drasticamente suas funções na sociedade.
     As grandes crises econômicas tornaram o mundo mais violento, instável e inseguro. O desemprego fez com que muitos deixassem de gerar filhos, já que implicava mais gastos. No capitalismo selvagem, as casas minguaram em apartamentos cada vez menores, entretanto, aqueles que optaram por um único filho, viram-no crescer espremido em áreas de serviço e/ou confinado em frente à televisão.
    Medo de perder a liberdade, relações pouco duradouras e adiamentos decorrentes da ambição profissional são outras razões para a redução da natalidade. No mundo competitivo atual, as pessoas se tornaram mais egoístas/individualistas, não querem se doar a outrem, ainda mais por que as novas configurações familiares não exigem a paternidade. Se no passado, a prole era garantia de mão de obra, na era tecnológica é um custo financeiro e emocional que poucos querem pagar.
    A redução dos nascimentos é produto de uma sociedade mais hedonista e menos fraternal e humana. Acreditamos, portanto, que o aumento da natalidade só se fará resgatando laços familiares de afeto e trocas. Será necessário, igualmente, estimular casais a se reproduzirem, por meios de incentivos em saúde, segurança e educação. Um mundo sem filhos é um mundo sem futuro.

[Redação realizada em sala de aula (Maximize - Mauá)
29.11.2016.
Revisado em 28.06.2017.


(Revista e alterada pelo Prof. Eduardo)

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  Ambiente/Cenário/Contexto: máquina automática de reposição automática de profissionais coisificados Foco: personagem: profissionais à vend...