quinta-feira, 13 de abril de 2017

REDAÇÃO: Artigo crítico do Prof. Henrique Vailati Neto sobre escrita e redes sociais

Redação em tempos de redes sociais

Nesta era de redes sociais na qual nunca se escreveu tão mal – contrapondo-se ao tempo em que poucos escreviam, mas escreviam bem – nos deparamos, no geral, com um “estilo” desconexo e descuidado que já se reflete numa nova gagueira, num tartamudear na linguagem oral.

Falando como um professor de história e, portanto, livre de eventuais purismos, trago a experiência do cotidiano, da convivência com jovens e adultos e das dificuldades crescentes de articular com clareza ideias, dos desafios constantes dos professores de obterem textos coerentes. Nada é mais corriqueiro, na revisão de provas corrigidas, do que o “diálogo do analfabetismo funcional contemporâneo”: “professor, foi isso que eu quis dizer”. Em resposta: “meu filho, mas não é isso que está escrito aqui!”.

Se a solução desta questão é pensada e tratada em vários níveis, da reforma curricular, à importância que a ela se dá nas melhores escolas, no entanto, existem áreas de combate descuidadas. Já não falo do zelo que pais e professores devem ter em corrigir a linguagem coloquial nos seus “pecados mais graves”. Preocupam-me os grandes veículos de comunicação de massas que, em sua programação de maior audiência, admitem verdadeiros crimes contra o bem falar e, atentem, nem nos referimos à gíria ou a neologismos espúrios. É estranhável que os âncoras dos grandes jornais trabalhem textos de boa qualidade e, em paralelo, surjam atentados contra nosso idioma: não falo do pedantismo da linguagem culta, mas do simples bem falar.

Parece que, para alguns, as massas querem o chulo, que elas não são capazes de se acostumarem com o esteticamente melhor, que elas não podem assimilar o que é bom. Perpassa a sensação de que rebaixar o nível é democrático.

É possível escrever bem e não falar de forma equivalente (talvez por questões psicológicas), mas é muito difícil falar mal e escrever bem. Aqui vai outra falácia que muito compromete o desempenho escolar, profissional e, por que não, pessoal: é muito comum encontrarmos alunos que preferem “falar ao invés de escreverem” e, quando se faz essa concessão, o desastre se confirma.

Insisto, não é uma questão de sofisticação elitista é a comprovação de que, na vida, somos tão bons quanto conseguimos convencer que somos e, esse convencimento não se opera apenas com atos concretos, há que se defender ideias, projetos, há que se apresentar relatórios, comprovar princípios.

Não tenho competência para entrar nas muitas e eficazes estratégias pedagógicas de se combater essa verdadeira epidemia deseducadora, mas gostaria que se pensasse, seriamente, no cuidado, em todos os níveis de se oferecer falas e textos de qualidade que educassem pelo bom exemplo.

Professor Henrique Vailati Neto é diretor do Colégio FAAP – SP.


Formado em História e Pedagogia, com mestrado em Administração. É professor universitário nas disciplinas de Sociologia e Ciência Política. Tem quatro filhos e quatro netos.

[Não concordo com todos os pontos apresentados pelo professor neste artigo.]

REDAÇÃO: Artigo crítico de Marcia Tiburi e Rubens Casara sobre ódio à inteligência

ÓDIO À INTELIGÊNCIA: SOBRE O ANTI-INTELECTUALISMO

Os preconceitos não são inúteis. Eles tem uma função importantíssima na economia psíquica do preconceituoso. Sem os preconceitos, a vida do preconceituoso seria insuportável. Os preconceitos servem na prática para favorecer uns e desfavorecer outros, para confirmar certezas incontrastáveis, manter a ordem e descontextualizar os fenômenos. São parte fundamental dos jogos de dominação e de poder, servem para mistificar, para manipular, mas servem sobretudo para sustentar um ideal falso na pessoa do preconceituoso, ideal acerca de si mesmo, um ideal de “superioridade”, sem o qual os preconceitos seriam eliminados porque perderiam, aí sim, a sua função fundante.

Ainda que sejam psicológicos e não lógicos, daí a aparência de irracionalidade, os preconceitos funcionam a partir de uma lógica binária, bem simples, uma espécie de “lógica da identidade”, mas em um sentido muito elementar, a lógica da medida que reduz tudo, seja a vida, as culturas, as sociedades, as pessoas, ao parâmetro “superior-inferior”. Preconceitos não funcionam fora de jogos de linguagem que são jogos psíquicos, que produzem algum tipo de compensação psíquica.

Vivemos tempos de descompensação emocional profunda, em uma espécie de vazio afetivo (junto com um vazio do pensamento e um vazio da ação que se resolve em consumismo acrítico tanto de ideias quanto de mercadorias). Nesses tempos, a oferta de preconceitos se torna imensa. No sistema de preconceitos, o objeto do preconceito varia, conforme uma estranha oferta: se há muitos judeus, pode-se dirigir o ódio, que é o afeto básico do preconceito, contra eles. Se há mulheres, homossexuais, negros, indígenas, lésbicas ou travestis, o ódio será lançado sobre eles, conforme haja oportunidade. Verdade que o ódio é sempre dirigido àquele que ameaça, ou seja, no fundo do ódio há muito medo. O preconceituoso é, na verdade, em um sentido um pouco mais profundo, alguém que tem muito medo, mas em vez de enfrentar seu medo com coragem, ele usa a covardia, justamente porque é impotente para enfrentar seu próprio medo.

O preconceituoso é, basicamente, um covarde.

Tendo isso em vista, é importante falar de um preconceito que está em voga nesse momento: o anti-intelectualismo. Há um ódio que se dirige atualmente à inteligência, ao conhecimento, à ciência, ao esclarecimento, ao discernimento. Ao mesmo tempo, esse ódio é velado, pois o lugar do saber é um lugar de poder que é interessante para muitos. Se podemos falar em “coronelismo intelectual” como um uso elitista do conhecimento, e de “ignorância populista”, como um uso elitista da ignorância, como duas formas de exercer o poder manipulando o campo do saber, podemos falar também de um ódio à inteligência, do seu apagamento.

Há, dividindo espaço com opressões próprias ao campo do saber, um estranho ódio ao saber em sua forma crítica e desconstrutiva. Um ódio que se relaciona com a ameaça libertária do saber, um saber capaz de desmistificar, de contrastar certezas e de desvelar a ignorância que serve de base para todos os preconceitos. O pensamento e a ousadia intelectual tornaram-se insuportáveis para muitas pessoas chegando a um nível institucional e, não raro, acabam excluídos ou mesmo criminalizados.

Diversos exemplos de anti-intelectualismo podem ser observados na sociedade brasileira. Desde a caricata presença do ator Alexandre Frota (menos pelo que ele é, mas sobretudo pelo que ele representa) como formulador de políticas públicas do Ministério da Educação ao projeto repleto de ideologia (e mais precisamente: da ideologia, de viés autoritário, da “negação do saber”) da “Escola sem partido”. Do silêncio em torno da exclusão de disciplinas (filosofia, sociologia, artes, etc.) do ensino médio (MP 746) à expressiva votação de candidatos que apostam no uso da força, em detrimento do conhecimento, como resposta aos mais variados problemas sociais. Do descaso com a educação (consagrado na PEC 241) ao tratamento conferido aos professores em todo Brasil (na cidade do Rio de Janeiro, uma das mais constantes críticas direcionadas ao candidato Marcelo Freixo, que disputa o segundo turno das eleições municipais contra o pastor licenciado da IURD Marcelo Crivella, é de que por ser professor não falaria “a linguagem do povo”).

O alto índice de abstenções, votos nulos e brancos (bem como a expressiva votação de políticos que se apresentavam como não-políticos) também é um sintoma do anti-intelectualismo, na medida em que o eleitor identifica o político como aquele que detém o “saber político”, um “saber” que foi demonizado pelos meios de comunicação de massa.

No sistema de justiça ocorre o mesmo. O bom juiz é aquele que julga da forma que o povo desinformado julgaria, mesmo que para isso seja necessário ignorar a doutrina, as leis e a própria Constituição da República. Por outro lado, não são raros os casos de juízes e promotores de justiça que respondem a procedimentos administrativos acusados de decidir contra o senso comum propagado pelos meios de comunicação de massa.

Em meio à onda anti-intelectualista, não causa surpresa que a lógica do pensamento passa a trabalhar com categorias pré-modernas como o “messianismo” e a “peste”. O messianismo identifica-se com a construção de heróis e salvadores da pátria (seres diferenciados, bravos e destemidos, mas que não são necessariamente cultos ou inteligentes, nem corajosos, mas usam uma performance política em que gritar e esbravejar provocam efeitos populistas). A lógica da peste identifica cada um dos problemas brasileiros como um mal indeterminado, em sua extensão, em suas formas e em suas causas, mas tangível e mortal, contra o qual só Deus ou pessoas iluminadas podem resolver. Só há “messianismo” e “peste”, fenômenos típicos de um conservadorismos carente de reflexão, onde desaparece o saber e a educação.

A barbárie está em curso.

Marcia Tiburi e Rubens Casara

http://revistacult.uol.com.br/home/2016/10/50931/

IDEIAS: Abordagem humorística no jornalismo brasileiro


"Jhon Lenon sequestra ônibus e passageiros gritam help!" O humor é produzido através do nome do sequestrador semelhante ao Beatle compositor da canção "Help!", socorro, em inglês. 

TEMA: Manipulação da informação



A GloboNews, alinhada com o governo de Temer, busca constantemente "reverter", via discurso, seus aspectos mais negativos em positivos. Muitas vezes, é descuidada e explicita seu posicionamento de adesão irrestrita ao governo PMDB em chamadas paradoxais que resvalam no absurdo: "Recessão e desemprego derrubam inflação e devolvem poder de compra aos brasileiros". 

IDEIAS: Manipulação da informação


Embora com abordagem visual bastante parecida, as capas da Istoé e da IstoéDinheiro trazem manchetes distintas. Na primeira, a ex-presidenta apresenta uma postura impositiva, sustentada pela manchete: "Dilma quer que você pague a conta". Na segunda, Michel Temer é mostrado com uma expressão mais amena (um leve sorriso) que a manchete reforça: "Ele conta com VOCÊ".

IDEIAS: Um exemplo para análise do discurso


Não existe jornalismo isento, o modo que a notícia é apresentada revela sua adesão à determinada ideologia/projeto. Neste processo, a escolha de palavras a serem publicadas determina sua apreensão do leitor. Quem chama "ocupação" de prédios abandonados por sem-tetos de "invasão" está nitidamente expressando sua opinião sobre o ato, e criminalizando o ato.

No caso das duas manchetes apresentadas pela Folha de São Paulo, ambas trazem exatamente a mesma informação, mas para um partido de Esquerda (a ser combatido pelo jornal de Direita), o ato praticado pela Odebrecht recebe a definição de "propina", enquanto para o partido alinhado à tendência política do jornal, ela é definida como "vantagens indevidas".



A abordagem genérica "peemedebista" em lugar do nome do preciso - Michel Temer, altera a percepção de quem lê a notícia. 

TEMA: Racismo no Brasil


REDAÇÃO: Artigo de jornal de Vladimir Safatle definindo Fascismo

UM FASCISTA MORA AO LADO



Há alguns dias, foi publicada a última pesquisa CNT/MDA para a eleição presidencial de 2018. Três fenômenos são dignos de nota: a ascensão de Lula, que venceria hoje em todos os cenários, a queda de todos os candidatos ligados de forma ou outra ao atual desgoverno e a consolidação do sr. Jair Bolsonaro em segundo lugar, em empate técnico com Marina Silva.

Uma leitura mais detalhada da pesquisa revela fatos ainda mais surpreendentes. Bolsonaro é o candidato mais votado dentre aqueles que possuem ensino superior (20,7%) e aparece empatado com Lula na escolha dos que ganham acima de cinco salários mínimos (20,5%).

Já há algum tempo, o termo “fascista” é utilizado no embate político de forma meramente valorativa, e não descritiva. Ou seja, não se trata de descrever algum tipo específico de fenômeno político, mas simplesmente de desqualificar aquele que gostaríamos de retirar do debate político.

No entanto, há sim um uso descritivo do termo, há situações nas quais devemos nomear claramente o que, no final das contas, é a pura e simples adesão a práticas facilmente qualificadas como fascistas. Pois poderíamos dizer que todo fascismo tem ao menos três características fundamentais.

Primeiro, ele é um culto explícito da ordem baseada na violência de Estado e em práticas autoritárias de governo. Segundo, ele permite a circulação desimpedida do desprezo social por grupos vulneráveis e fragilizados. O ocupante desses grupos pode variar de acordo com situações históricas específicas. Já foram os judeus, mas podem também ser os homossexuais, os árabes, os índios, entre tantos outros. Por fim, ele procura constituir coesão social através de um uso paranoico do nacionalismo, da defesa da fronteira, do território e da identidade a eixo fundamental do embate político.

Neste sentido, não seria difícil demonstrar todo o fascismo ordinário do sr. Bolsonaro. Sua adesão à ditadura militar é notória, a ponto de saudar e prestar homenagens a torturadores. Não deixa de ser sintomático que pessoas capazes de se dizerem profundamente indignadas contra a corrupção reinante afirmem votar em alguém que louva um regime criminoso e corrupto como a ditadura militar brasileira (vide casos Capemi, Coroa-Brastel, Paulipetro, Jari, entre tantos outros).

Bem, quem começa tirando selfie com a Polícia Militar em manifestações só poderia terminar abraçando toda forma de violência de Estado.

Por outro lado, sua luta incansável contra a constituição de políticas de direito, reparação e conscientização da violência contra grupos vulneráveis expressa o desprezo que parte da população brasileira sempre cultivou, mas que agora se sente autorizada a expressar.

Por fim, o primarismo de um nacionalismo que expressa o simples culto do direito secular de mando, algo bem expresso no slogan “devolva o meu país”, fecha o círculo.

Ora, o fato significativo é que a maioria da classe média brasileira com sua semiformação característica assumiu de forma explícita uma perspectiva simplesmente fascista.

Ela operou um desrecalque, já que até então se permitia representar por candidatos conservadores mais tradicionais. Essa escolha é resultado de uma reação à “desordem” e à abertura produzida pela revolta de 2013.

Todo evento real produz um sujeito reativo, sujeito que, diante das possibilidades abertas por processos impredicados, procura o retorno de alguma forma de ordem segura capaz de colocar todos nos seus devidos lugares. Nesse contexto, a última coisa a fazer é acreditar que devemos “dialogar” com tal setor da população.

Faz parte de um iluminismo pueril a crença de que o outro não pensa como eu porque ele não compreendeu bem a cadeia de argumentos.

Logo, se eu explicar de forma pausada e lenta, você acabará concordando comigo. Bem, nada mais equivocado. O que nos diferencia é a adesão a forma de vida radicalmente diferentes. Quem quer um fascista não fez essa escolha porque compreendeu mal a cadeia de argumentos. Ele o escolheu porque adere a formas de vida e afetos típicos desse horizonte político. Não é argumentando que se modifica algo, mas desativando os afetos que sustentam tais escolhas.

De toda forma, há de se nomear claramente o caminho que parte significativa dos eleitores tomou. Essa radicalização não desaparecerá, mas é embalada pelo espírito do tempo e suas regressões. Na verdade, ela se aprofundará. Contra ela, só existe o combate sem trégua.


Vladimir Safatle

FONTE AQUI

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