Redação
em tempos de redes sociais
Nesta era
de redes sociais na qual nunca se escreveu tão mal –
contrapondo-se ao tempo em que poucos escreviam, mas escreviam bem –
nos deparamos, no geral, com um “estilo” desconexo e descuidado
que já se reflete numa nova gagueira, num tartamudear na linguagem
oral.
Falando
como um professor de história e, portanto, livre de eventuais
purismos, trago a experiência do cotidiano, da convivência com
jovens e adultos e das dificuldades crescentes de articular com
clareza ideias, dos desafios constantes dos professores de obterem
textos coerentes. Nada é mais corriqueiro, na revisão de provas
corrigidas, do que o “diálogo do analfabetismo funcional
contemporâneo”: “professor, foi isso que eu quis dizer”. Em
resposta: “meu filho, mas não é isso que está escrito aqui!”.
Se a
solução desta questão é pensada e tratada em vários níveis, da
reforma curricular, à importância que a ela se dá nas melhores
escolas, no entanto, existem áreas de combate descuidadas. Já não
falo do zelo que pais e professores devem ter em corrigir a linguagem
coloquial nos seus “pecados mais graves”. Preocupam-me os grandes
veículos de comunicação de massas que, em sua programação de
maior audiência, admitem verdadeiros crimes contra o bem falar e,
atentem, nem nos referimos à gíria ou a neologismos espúrios. É
estranhável que os âncoras dos grandes jornais trabalhem textos de
boa qualidade e, em paralelo, surjam atentados contra nosso idioma:
não falo do pedantismo da linguagem culta, mas do simples bem falar.
Parece
que, para alguns, as massas querem o chulo, que elas não são
capazes de se acostumarem com o esteticamente melhor, que elas não
podem assimilar o que é bom. Perpassa a sensação de que rebaixar o
nível é democrático.
É
possível escrever bem e não falar de forma equivalente (talvez por
questões psicológicas), mas é muito difícil falar mal e escrever
bem. Aqui vai outra falácia que muito compromete o desempenho
escolar, profissional e, por que não, pessoal: é muito comum
encontrarmos alunos que preferem “falar ao invés de escreverem”
e, quando se faz essa concessão, o desastre se confirma.
Insisto,
não é uma questão de sofisticação elitista é a comprovação de
que, na vida, somos tão bons quanto conseguimos convencer que somos
e, esse convencimento não se opera apenas com atos concretos, há
que se defender ideias, projetos, há que se apresentar relatórios,
comprovar princípios.
Não
tenho competência para entrar nas muitas e eficazes estratégias
pedagógicas de se combater essa verdadeira epidemia deseducadora,
mas gostaria que se pensasse, seriamente, no cuidado, em todos os
níveis de se oferecer falas e textos de qualidade que educassem pelo
bom exemplo.
Professor
Henrique Vailati Neto é diretor do Colégio FAAP – SP.
Formado
em História e Pedagogia, com mestrado em Administração. É
professor universitário nas disciplinas de Sociologia e Ciência
Política. Tem quatro filhos e quatro netos.
[Não concordo com todos os pontos apresentados pelo professor neste artigo.]
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