terça-feira, 31 de outubro de 2017

Redação. Tema: Ativismo e propagação do ódio nas redes.

ATIVISMO NA REDE

O ativismo nas redes sociais (ou ciberativismo) é uma prática que só se fez possível a partir do surgimento de um sistema globalizado de informação: a internet. Um ciberativista se apropria dos recursos da rede não apenas para buscar apoio em determinadas causas (nem sempre democráticas), mas trocar informações e mobilizar “seguidores”.

Redes sociais como Facebook e Whattsapp permitem a criação de comunidades temáticas. Veinculadas em canais do Youtube e no Twitter, tais grupos converteram-se num eficaz sistema de propagação de ideias e discussões. Movimentos populares como Primavera Árabe; Ocupa WallStreet, nos EUA; e Passe Livre, no Brasil, emergiram nas redes e ganharam as ruas na forma de manifestações contrárias a sistemas mais autoritários, nem sempre de forma pacífica. A política, até então restrita a debates em época de eleições, ganhou o cotidiano e voz entre os jovens.

Embora compartilhar e difundir interesses comuns sejam práticas usuais de militância, a popularização de computadores e celulares expandiu de forma radical seu poder. Há, atualmente, grupos organizados em atividades voltados desde a caridade à propagação do ódio racial. Se a busca da coletividade muito contrasta com o individualismo e narcisismo da “geração selfie” (do curtir, comentar, compartilhar), nunca houve uma juventude com capacidade de mobilização como a do século XXI.

No Brasil atual, a polarização – Esquerda X Direita – é resultado do empobrecimento do debate, já que redes como Facebook, ao criar “bolhas de interesse” com seus algoritmos, restringem as perspectivas e criam a ilusão de um pensamento unilateral. O debate político-ideológico na rede, entretanto, nem sempre é honesto. “Fake news” (factóides) tornaram-se armas de ataque a exposições, peças, minorias, artistas e políticos. O Movimento Brasil Livre, financiado por partidos conservadores e corporações estadunidenses, é exemplo da prática do “ciberbullying” político aos opositores de sua ideologia neoliberal.


O ciberativismo é uma prática irreversível. Infelizmente, as mídias digitais tanto podem permitir a visibilidade de minorias marginalizadas quanto dar voz a fanáticos religiosos, falsos moralistas, extremistas conservadores e odiadores contumazes. Identificar, punir e coibir discursos radicas nas redes, garantindo a civilidade e legitimidade do diálogo, é portanto, necessário. Tais abusos devem ser combatidos com implementação de leis específicas e investigações que permitam identificar tais criminosos, função a ser exigida ao Ministério da Comunicação. Nas escolas, conscientizar os jovens dos perigos da rede e estimular a busca de fontes confiáveis (e éticas) de informação deve ser uma prática diária. O direito à liberdade de expressão e à mobilização “responsáveis” são indissociáveis de uma prática democrática e cidadã, ainda mais em tempos obtusos de “pós verdade”.


[Redação coletiva. Maximize Paulista.]

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

REDAÇÃO. Tema: O movimento antivacinação e a crescente descrença no pensamento científico no Brasil

CONTRA A INCUBAÇÃO DA IGNORÂNCIA

O movimento antivacinação tem proliferado nos últimos anos, principalmente, por meio do ativismo propagado nas redes sociais. A falsa segurança (decorrente da ausência de surtos), o medo de reações colaterais à vacina e a difusão de informações falsas são as principais causas.

A saúde pública no Brasil é extremamente precária, entretanto, a política de vacinação implantada pelo Sistema Único de Saude não só se mostrou eficiente, mas um modelo de prevenção para diversos países. Essa eficiência, portanto, foi responsável pela erradicação da Poliomelite e redução de outras doenças a níveis ínfimos; o que fez com que muitos negligenciassem a importância da vacinação e questionassem sua real eficácia.

Há, por parte de vários pais, certo receio em relação aos efeitos adversos das vacinas, já que, comumente, desencadeiam pequenas reações alérgicas nas crianças. Por mais que lhes doam o sofrimento dos filhos, esse é menos nocivo que o impacto de doenças e epidemias. Embora tal atitude fosse mais esperada em camadas pouco instruídas ou pobres da população, jovens de classe media, com alta escolaridade e acesso à informação estão entre os principais adeptos da antivacinação. Se a predileção por terapias alternativas (homeopatia, florais, cristais, “reiki” e benzeduras etc), tem suplantado a “crença” em vírus, fungos e bactérias, quem sofre riscos e/ou danos permanentes de doenças triviais - já que vacináveis, - são as crianças não imunizadas.

Embora a Internet tenha democratizado o acesso à informação, nada mais danoso à saúde do que seu poder de propagar factóides. Convicções sem fundamentos e falácias reiteradas ganham peso verdade nas redes. Em “comunidades” virtuais brasileiras (há 14 ativas no Facebook, com 13 mil membros), mães compartilham “experiências”, fazem confissões e reverberam crendices atávicas de avós e curandeiras. Generalizar casos particulares é a praxe. Pediatras e infectologistas (vistos como agentes a serviço dos interesses escusos da indústria da vacinação) não escapam à desconfiança de mães convictas do poder deletério dos patógenos de toda vacina.


O avançar do movimento antivacina comprova a atual demonização do conhecimento científico. A promoção do discurso do medo, da ignorância e do obscurantismo necessita, portanto, ser combatida com uma educação que garanta um olhar mais crítico sobre as mídias e a realidade. O Ministério da Saúde deve implementar campanhas de conscientização, debates em escolas e difundir na mídia os benefícios da vacinação. É preciso exigir dos pais o cumprimento do Calendário Nacional de Vacinação. Deixar a sociedade à merce de epidemias é uma ação não só irresponsável mas criminosa que deve ser punida com leis, sanções e multas a particulares e grupos. Não se pode permitir "a incubação da ignorância, nem a atualização do atraso.”


[Redação coletiva com o tema "O movimento antivacinação e a crescente descrença no pensamento científico no Brasil", realizado no Maximize, turma tarde (agosto).

TEMAS DE REDAÇÃO - Recomendação de site

O site do PROJETO REDAÇÃO é o melhor para encontrar temas/propostas de redação. Recomento a todos que queiram treinar para redação.

Para acessar, cliquem AQUI





REDAÇÃO. Tema: Escola sem partido: rumos da educação no Brasil

A ESCOLA DE MORDAÇA

Um movimento denominado “Escola Sem Partido” pretende alterar, via projeto de lei, a forma como o ensino se processa hoje, no Sistema Educacional Brasileiro. Acusam professores de influenciar ideologicamente seus alunos com o propósito de manter no poder partidos de esquerda e afins.
Transmitir o conteúdo científico e filosófico universal, capacitar para leitura e compreensão de textos, além de garantir bases para inserção no mercado de trabalho e/ou no ensino superior, esses são os objetivos da educação. Um professor, contudo, é mais que um mediador/fornecedor de matérias curriculares, visto que ele é responsável por estimular debates e, portanto, o senso crítico dos estudantes. Contraditoriamente, hoje, seu direito à livre expressão de pensamento está sendo questionado.
A Ditadura Militar, com o pretexto de combater o Comunismo e defender a “família tradicional brasileira”, não só reprimiu vozes contrárias, mas perseguiu, torturou e matou seus opositores. Se instaurou a censura para encobrir seus crimes, foi na escola que atuou de fato. Redefiniu disciplinas, restringiu debates políticos, fechou centros acadêmicos e exilou mestres. Grêmios estudantis e associações diversas foram abolidos sob a acusação de difundirem ideias socialistas/marxistas. Proibir o debate da realidade sociopolítica do país é uma prática corrente de regimes autoritários, já que para se manter no poder, alienar o cidadão é fundamental.
Alegar que mestres são agentes aliciadores da “esquerda petista”, cujo objetivo é a “lavagem cerebral” em jovens indefesos e incautos, é uma falácia perigosa, cujo interesse é o controle de conteúdos e das práticas didático-pedagógicas. Ao acusar de doutrinação a abertura de discussão sobre gênero, respeito às minorias (negros, pobres, periféricos, deficientes, idosos, etc), criminalizam a prática docente, num gesto repressor e reacionário do regime dos generais. A geração da “década perdida” conquistou com luta a redemocratização do Brasil e aboliu a “lei da mordaça” muitos a querem resgatar
O “Escola Sem Partido” representa um retrocesso no país, no pensamento inclusivo e libertador propiciado pela educação, já que, sob o pretexto de ataque a uma “pretensa doutrinação de esquerda”, desqualifica o pensamento crítico e desvaloriza a ciência em prol de fundamentalismos morais e religiosos. A divergência de opiniões (refletida na atual polarização Esquerda X Direita) é indissociável da prática democrática, portanto, o debate crítico e o saber precisam ser defendidos por todos, independentes de dogmas e partidos. Há uma Constituição vigente no país – que apesar de, atualmente, vilipendiada por corruptos – cabe a nós, cidadãos brasileiros, exigir o cumprimento; a fim de que ideias fascistas, camufladas de discurso moral, não comprometam o futuro das novas gerações. 


[Redação coletiva, realizada em outubro 2017, Maximize Mauá.]

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

REDAÇÃO. Tema: A questão dos refugiados e nova onda migratória para o Brasil

Redação com o tema A questão dos refugiados e nova onda migratória para o Brasil. Redação coletiva produzida em Mauá. 







UMA NOVA SAGA RUMO AO BRASIL

Refugiados são migrantes que - por motivo de perseguição por raça, religião, nacionalidade, grupo social e/ou opiniões políticas, - precisam se arriscar em fugas (muitas vezes dramáticas) para sobreviver também à miséria, guerras e catástrofes. Historicamente, o Brasil é solidário a eles, entretanto, hoje, a crise econômica e ascensão de líderes xenófobos ameaçam tal amparo.
O Brasil é um país de imigrantes. Dos colonizadores portugueses, passando pelos negros africanos, europeus, asiáticos, árabes e outros, a sociedade brasileira é plural desde a matriz indígena, talvez por isso sempre tendeu ao acolhimento de estrangeiros. Embora nem sempre harmonioso, tais encontros constituiram a nação que somos e nos fizeram um tanto avessos à xenofobia.
Diferentemente de brancos europeus, imigrantes haitianos e latinos, - ou originários de países pobres - são mais rejeitados e tratados de forma desigual no Brasil. Se tal racismo parece paradoxal a uma nação tão miscigenada, isso é nefasta herança de nosso passado escravocrata. Há uma crise não apenas política em curso no país, mas também socioeconômica. Isso faz com que pessoas sintam-se mais ameaçadas, já que o nacionalismo retrógrado e o conservadorismo intolerante se propaga nas mentes pouco esclarecidas e/ou alienadas em tempos de desemprego e inflação. Tal medo se converte em desconfiança aos recém-chegados.
Representantes políticos com tendências fascistas, como o ex-militar Jair Bolsonaro, defendem que estrangeiros (em particular, sírios e muçulmanos) tenham sua entrada barrada no país. Argumentam que ameaçariam a segurança nacional, já que seriam, segundo alguns, “potenciais terroristas”: uma generalização preconceituosa sobre os povos árabes.
Sobreviventes e carentes de proteção, o acolhimento a refugiados é mais do que um ato humanitário, um dever de todas as nações, principalmente as mais desenvolvidas, posto que além de fornecedoras de armamentos bélicos, elas foram, ao desrespeitar fronteiras e sociedades tradicionais, responsáveis por guerras, invasões e colonialismos tirânicos. Devemos, portanto, colocar em prática a lei de imigração recentemente assinada no Brasil, a fim de que a inviolabilidade de direitos, assistência, proteção, auxílio e apoio ao asilo de refugiados seja fortalecida; e sirva de modelo às demais nações. Além de ter muito a contribuir cultural e economicamente para cultura da tolerância e diversidade de nosso país, eles servirão de antídoto ao preconceito e discriminação que ameaçam mentes e corações brasileiros.


[Redação coletiva do Maximize Mauá, noite]

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

REDAÇÃO. Tema A criminalização da homofobia no Brasil

Por razão do ENEM, e a pedido de alguns alunos, comecei a fazer redações coletivas (em sala de aula) de todos os temas para ENEM e FUVEST possíveis para "cair" em 2017. O primeiro que posto é este, sobre o tema A CRIMINALIZAÇÃO DA HOMOFOBIA NO BRASIL. Foi feito com a turma da tarde, do MAXIMIZE MAUÁ (extensivo tarde), enviado pela Larissa Lopes Santana.



PELO DIREITO DE EXISTIR

O fato de a criminalização da homofobia não ter sido homologada pelo Senado brasileiro revela o quanto o país precisa avançar em relação aos direitos de “gays”, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT´s). Pretensos inimigos da “família tradicional brasileira”, muitos têm seus direitos ignorados e a frequente violência que sofrem é minimizada pela sociedade.
LGBT's nascem no seio de uma família, portanto, julgá-los excluídos desta instituição e da sociedade é um contrassenso. Embora o Brasil seja um país “pretensamente” laico, valores judaico-cristãos determinam, em grande parte, não apenas normas, comportamentos e condutas (julgadas socialmente aceitáveis), mas também leis vigentes no país. Isso faz com que, aqui, a cada 25 horas, um deles seja assassinado por homofóbicos, devido à certeza da impunidade pela ausência de uma legislação específica.
O crime de ódio é definido por uma violência cometida por preconceito de raça, credo, gênero e orientação sexual. Se a heteronormatividade é considerada uma virtude numa sociedade machista/patriarcal, às minorias cabem o silenciamento e a segregação. A diversidade sexual, portanto, não é respeitada como direito individual, ainda mais por que discursos contra a identidade de gênero - e defesa de reversão sexual por “psicólogos” - são apoiadas e defendidas por religiosos e políticos.
Há, no Brasil de hoje, “bullying” nas escolas, ofensas nas redes, agressões em espaços públicos e censura de exposições. Os LGBT's são com frequência atacados e impossibilitados de expressar livremente seus desejos e afetos. A Parada LGBT de São Paulo é um sucesso de popularidade e atualmente movimenta a economia da metrópole; entretanto, esta tolerância “gay friendly” escamoteia agressões contínuas – ainda mais nas periferias – à comunidade “gay” e afins.
Minimizar crimes de ódio contra LGBT's, negando-lhes uma lei que os acolha e defenda, explicita o desprezo e o descaso do próprio Estado em relação à perseguição que muitos sofrem. Devemos, portanto, exigir de nossos representantes políticos sua implementação imediata, além de outras leis que lhes garantam igualdade de direitos (inclusive matrimoniais) e acesso ao nome social, no caso do cidadão trans. O respeito tanto à identidade de gênero quanto ao de orientação sexual deve ser um valor aprendido e estimulado nas famílias, templos e instituições de ensino, já que a luta LGBT não se restringe à visibilidade, mas ao direito de existir plenamente, como de todo cidadão.


[Redação coletiva do Maximize Mauá – Extensivo tarde – enviado por Larissa Lopes Santana.]

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

IDEIAS: Um alemão analisa o Sul do Brasil. Pé na Praia: Entre falsos bávaros

ENTRE FALSOS BÁVAROS



[Por que uma cultura no Sul do Brasil – neste caso a teutônica – não se transforma e abre para novas influências? Principalmente em uma terra culturalmente tão rica e cheia de vida como o Brasil.]

Fiquei um pouco malquisto entre as pessoas de Santa Catarina. Tem a ver com eu ter me comportado mal em Blumenau umas semanas atrás. E também com eu, como visitante alemão, ter achado a cultura local (de trajes típicos e cerveja) um pouco estranha. Mas não se deve evitar os conflitos. Assim, uns dias atrás acabei numa carroça enfeitada de flores. Seguíamos pelas ruas principais de Blumenau. Eu usava uma lederhose, sapatos apropriados para pastos e um colete folclórico. Eu sorria, acenava e jogava flores para as garotas mais bonitas.

Era preciso fazer isso, senão teria problemas com Sylvio Zimmermann. O político blumenauense, de 41 anos de idade, estava sentado ao meu lado na carruagem e falava de vez em quando: "Tenta ser simpático!”. Mais tarde escreveu a mesma coisa por Whatsapp, provavelmente como um conselho para esta coluna, e me senti confuso. Simpático? Eu sou um alemão!

De qualquer jeito, achei gentil que o Zimmermann – um vereador jovem e muito engajado – tenha convidado esse repórter crítico e um pouco rabugento. Encomendei a lederhose, já que havia três anos que tinha vestido uma dessas, e chegou em cima da hora.

Mesmo assim quis saber por que a minha coluna há algumas semanas teve reações tão fortes de Blumenau. "Seu alemão de merda vc vem a Blumenau criticar”, escreveu um certo Rogério, outros leitores me desaconselharam radicalmente a voltar a Santa Catarina. "Os alemães nem são mais alemães”, escreveu um leitor, "existe uma completa perda de valores na Alemanha." Somente poucos leitores foram de acordo com a minha opinião de que os germânicos no Sul do Brasil vivem presos em uma nostalgia, congelados em uma cultura do passado, ao invés de se atreverem a renovar. "O que os teuto-brasileiros fazem no sul é certo, não podemos perder nossos valores centenários”, dizia um dos comentários que recebi.

Pode-se ver isso assim, mas me pareceu estarem na defensiva. Por que uma cultura no Sul do Brasil – neste caso a teutônica – não deveria se transformar e abrir para novas influências? Principalmente em uma terra culturalmente tão rica e cheia de vida como o Brasil? Mas vi muito durante minha visita a Blumenau a veneração a coisas antigas da Alemanha e a rejeição de tudo que é novo. Até mesmo na rua, em um café, pelo qual eu passeava com Sylvio, o vereador, na manhã do desfile. "Vocês têm que parar com a imigração para a Alemanha!” gritaram dois senhores mais velhos, que eram em parte descendentes de alemães, em parte de italianos. O fluxo de refugiados de guerra alemães para a Alemanha tem que parar! Senão, em pouco tempo, a Alemanha não será mais alemã! Foi interessante ouvir este tipo de coisas sobre meu país. Dos dois senhores, nenhum deles havia jamais viajado para o meu país, e mesmo assim tinham medo de perder alguma coisa. 

"Muito desta mentalidade daqui tem a ver com a repressão muito forte”, disse Sylvio, o vereador. Ele se referia aos anos 30, quando o governo Getúlio Vargas tentava criar no Brasil uma nova consciência nacional, e mais tarde então com ainda mais intensidade, quando Brasil e Alemanha se tornaram inimigos na Segunda Guerra Mundial. "Blumenau sofreu muito”, ele me disse.
É verdade. A área da cidade, antigamente com mais de 10 milhões de metros quadrados, foi dividida em vários distritos e entregues para intendentes fiéis ao governo. Escolas alemãs foram fechadas, foram proibidas as "Schützenvereine”, o "Theaterverein Frohsinn” teve o nome mudado para Teatro Carlos Gomes.

O avo do Sylvio foi mandado para a prisão por um tempo – o vereador fala de modo vago sobre os motivos, mas aparentemente ele falava alemão, assim como toda a sua família o fazia: os primeiros ascendentes da família vieram para essa terra em 1836. A avó de Sylvio queimou todos os livros, cartas, periódicos e até mesmo a bíblia em alemão, para que a polícia não os pudesse acusar de nada. Ela só manteve um livro, bem escondido, um guia católico com conselhos práticos para o cotidiano: orações contra bruxarias, orações contra ladrões e coisas deste tipo. A avó fechava as janelas antes de cantar as canções de natal. "Primeiro as pessoas tinham medo de ser alemãs, depois tinham vergonha”, Sylvio disse.

Sylvio, o vereador, tem outra teoria também: que a Oktoberfest de Blumenau tenha ajudado a recuperar a autoconfiança dos germânicos do Sul do Brasil. As pessoas "encontraram uma razão para voltar, até um pouco de orgulho”, ele me disse. Eu olhei para ele desconfiado. A Oktoberfest em Blumenau? Este pastiche com motivos bávaros e lederhosen e fanfarras e milhões de litros de cerveja? Até onde eu sei, em Blumenau quase não tem nenhum imigrante da Baviera. A maioria vem da Pomerânia, que hoje fica na Polônia. Outros vêm de Hamburgo, etc. Nenhum desses lugares tem a tradição de lederhosen e tal adoração por cerveja. 

"Ah, nós não somos tão criteriosos assim”, me disse um funcionário da secretaria de Turismo em Blumenau, "o bávaro representa para nós toda a Alemanha”. E Sylvio aparentemente também via isso dessa forma, quando me dava conselhos para o desfile mais tarde – onde eu aparecei, falso bávaro entre falsos bávaros, com meias de lã até os joelhos, em plenos trópicos, com um caneco de cerveja gigantesco na mão, que estava sempre cheio como que num passe de mágica.

"Nós não temos uma cultura alemã”, ele me disse e riu, " temos uma cultura brasileira com influência germânica tropicalizada.” Olhei para ele, porque estava tentando decifrar a frase comprida. Ele completou o pensamento. "Os alemães aqui são quase como os alemães da Alemanha – só bem-humorados!”

[Thomas Fischermann é correspondente para o jornal alemão die ZEIT na América do Sul. Em sua coluna „Pé na Praia“ faz relatos sobre encontros, acontecimentos e mal-entendidos – no Rio de Janeiro e durante suas viagens. Pode-se segui-lo no Twitter e Instagram: @strandreporter.]

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

MASP: Histórias da Sexualidade



Em nova mostra com inauguração prevista para 20/10/2017 (até 14/02/2018) o MASP reunirá trabalhos de artistas como Anita Malfatti, Francis Bacon, Edgar Degas e Pablo Picasso sobre história da sexualidade. A classificação será livre.

A nova mostra do Masp, que vem no momento de grande polarização acerca da liberdade da arte, chega com a exposição “Histórias da Sexualidade”, e irá apresentar um panorama das representações da sexualidade na arte em distintos momentos, apresentando também distintas técnicas artísticas.

Serão mais de 200 obras contendo nomes de peso da arte como Anita Malfatti, Francis Bacon, Edgar Degas, Lasar Segall, Cícero Dias e Pablo Picasso, presentes no acervo do museu, assim como coleções brasileiras e internacionais.

A mostra vai ocupar vários espaços expositivos do Masp, sendo no primeiro andar onde estarão a maior parte das obras que serão divididas em 8 temáticas: Corpos Nus, Totemismos, Religiosidade, Performatividade de Gênero, Jogos Sexuais, Mercado de Sexo, Linguagens e Voyeurismo. O núcleo Corpos Nus irá tratar sobre o corpo humano despido, para o desespero da direita. Outro núcleo também vai abrigar imagens de diversas representações de órgãos sexuais, com falos, vulvas e seios.

As obras, segundo a curadora Camila Bechelany, representam tanto uma crítica ao consumo de massa quanto uma reflexão acerca do papel da mulher na sociedade.

Estarão expostos corpos femininos, masculinos, trans e travestis de diferentes belezas e padrões, que podem “suscitar reações de repulsa e abjeção, desejo e encantamento”.

A curadoria é de Adriano Pedrosa (diretor artístico do Masp), Lilia Schwarcz (curadora-adjunta de histórias do Masp), Pablo León de la Barra (curador-adjunto de arte latino-americana do Masp) e Camila Bechelany (curadora-assistente do Masp). A classificação etária é livre

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quinta-feira, 12 de outubro de 2017

INTERPRETAÇÃO: Intertextualização com o poema do Drummond




NO MEIO DO CAMINHO

No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra

Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra.

Carlos Drummond de Andrade

14 temas possível para o ENEM 2017 (segundo G1)

Professores de quatro cursinhos ouvidos pelo G1 listaram 14 assuntos que, segundo eles, estão entre os possíveis temas de redação do Enem 2017 (Exame Nacional do Ensino Médio), que será aplicada no primeiro dia do exame, em 5 de novembro.


Tradicionalmente os temas da redação envolvem problemas brasileiros, sempre com um viés humanista, que exigem uma proposta de intervenção. O tema sempre vem acompanhado de textos ou imagens motivadoras para inspirar os candidatos.

Veja as apostas:

1. Ativismo nas redes sociais
As redes sociais cada vez mais estão sendo usadas para expressar opiniões e promover debates. Alana Vivas, consultora pedagógica do Sistema Ari de Sá (SAS), acredita que este ativismo nas redes, o “ciberativismo”, pode inspirar temas de redação.
“O aluno pode discutir a importância do ciberativismo como instrumento de manifestação popular, visto que esse meio dá voz à população, mas pode comentar inclusive sobre os cuidados que as pessoas devem tomar em relação às suas atitudes nas redes, como o compartilhamento de notícias falsas e especulações, vindas de fontes não seguras”, diz Alana.

2. Ciberbullying e outros crimes virtuais
Alana Vivas e André Valente, professor do Cursinho da Poli, lembram que o tema norteou muitas discussões deste ano. Bons exemplos são a série “13 Reasons Why”, da Netflix, que foi febre entre os jovens e retratou o ciberbullying e a depressão, além do fenômeno Baleia Azul, um “jogo virtual” que incentivava a automutilação e o suicídio.
“O aluno, ao se deparar com um tema como esse, pode argumentar que a escola e a família possuem papéis distintos mas complementares no processo de conscientização acerca do ciberbullying e dos crimes virtuais, além de sugerir que o aumento da depressão entre os jovens seja tratado pelo ministério da saúde como um problema de saúde pública”, afirma Alana.

3. Desafios da mobilidade urbana
A mobilidade urbana é um desafio nas principais cidades do Brasil. Alana afirma que o crescimento da população nos principais polos urbanos somado à precariedade dos serviços de transporte público geram trânsito intenso, além de acidentes e problemas ambientais.
“Todo esse contexto torna esse tema bastante atual e propício a propostas de intervenção no momento da redação. O aluno, ao se deparar com ele, pode contextualizar a situação nas grandes cidades, usando como exemplo o descontentamento social e o surgimento de transportes alternativos, como os aplicativos de mobilidade”, afirma Alana.

4. Envelhecimento da população
Vinicius Beltrão, do Sistema Ari de Sá, reforça que a população brasileira tem passado nos últimos 70 anos por uma inversão em sua pirâmide etária, e este fenômeno tem consequências.
“Atualmente somos considerados um país adulto, e a estimativa é que até 2050 passemos à categoria idoso. Mudanças socioeconômicas, avanços tecnológicos, processo de urbanização e políticas públicas mais consistentes garantiram expressiva melhoria na qualidade de vida do brasileiro”, afirma.
O consultor lembra que o país conta com mais aposentados do que contribuintes, o que deu precedente à reforma da previdência proposta pelo atual governo.

5. Família no século 21
Outra aposta de Beltrão é baseada na transformação do conceito de família desde o século passado. “A família nuclear composta por pai e mãe, hoje divide espaço com mães que optam pela produção independente, casais homoafetivos, crianças que são criadas por avós, casais demasiado jovens, entre outros”, afirma.
Beltrão diz que esta pode ser uma aposta de tema porque apesar dos direitos conquistados por casais homoafetivos, há quem ainda se choca com essa nova concepção familiar, como grupos religiosos que defendem a família tradicional e políticos conservadores que tentam aprovar projetos de lei que representam retrocessos nas conquistas sociais alcançadas.

6. Força da juventude
Daniel Perez, professor do Cursinho Maximize, acredita que temas ligados à juventude podem aparecer. O professor lembra que a força da juventude e a importância dos jovens para a sociedade são assuntos que nunca foram abordados, são fortes e por isso têm potencial para cair este ano.

7. Homofobia e criminalização no Brasil
Outra aposta da professora Alana são assuntos ligados à homofobia, tendo em vista que questões relacionadas aos direitos humanos são abordadas na prova. “A proposta envolvendo a criminalização da homofobia, que não foi homologada pelo Senado até então, traz à tona esse assunto, além de que as recentes discussões a respeito da liminar que autoriza psicólogos a oferecerem tratamentos de reversão sexual, a chamada ‘cura gay’.”
O professor André Valente também aposta em temas ligados à diversidade sexual, pois o assunto voltou à tona, inclusive sendo tratado na novela “A Força do Querer”, da TV Globo, que tem um personagem transexual.

8. Jovens e drogas
Simone Motta, coordenadora de português do Etapa, acha que um assunto provável é o consumo de álcool e drogas entre adolescentes. O tema pode ser abordado sob a ótica da saúde pública e o impacto desse consumo cada vez mais precoce à saúde.

9. Onda anti-vacinação
Outra hipótese de Simone é a “onda” anti-vacinação na qual muitas famílias embarcaram. Ela é justificada pela disseminação de mitos, ou até mesmo crenças pessoais que fazem com que muitas pessoas optem por não imunizarem seus filhos. “Isso gera uma preocupação muito grande por parte do governo porque muitas doenças já erradicadas, correm o risco de voltar a aparecer.”

10. Lixo e meio ambiente
Meio ambiente é um tema “amigo” do Enem. Para Simone, ele pode cair na redação do ponto de vista da criação de soluções ecologicamente corretas, como fonte de energias alternativas, como eólica e solar. Ainda dentro desta temática, ela lembra a questão da produção e descarte correto do lixo, principalmente o digital. Como fazer o descarte correto dos eletrônicos, por exemplo?

11. Pessoas com deficiência
André Valente, professor do Cursinho da Poli, lembra a tendência do Enem de tratar assuntos relacionados às minorias, por isso ele acha que as pessoas com deficiência pode inspirar o tema deste ano.
“Em 2015 tivemos violência contra a mulher, e em 2016, intolerância religiosa e o racismo. Um tema sobre pessoas com deficiência possui muita relevância social e pode se abordamos do ponto de vista da acessibilidade, da inclusão no mercado de trabalho e da inserção em variados âmbitos da sociedade civil.”

12. Poder transformador do trabalho
Daniel Perez acredita que a redação vai manter a linha de abordar um problema social brasileiro. Uma de suas apostas é o "trabalho e seu poder transformador", assim como questões ligadas ao empreendedorismo relacionadas à criatividade do povo brasileiro.

13. Saúde e o SUS
Perez aposta, ainda, que a saúde e o Sistema Único de Saúde (SUS) podem inspirar temas. Ele lembra que o sistema em si tem falhas, mas ele pode ser cobrado do ponto de vista positivo. Perez cita como exemplo o fato de o Brasil ser modelo mundial em campanhas de vacinação e controle do vírus HIV.

14. Sistema prisional brasileiro
Ainda entre as apostas da professora Alana estão os temas ligados à superlotação dos presídios e às condições dos detentos, que apresentam bastante espaço para propostas de intervenção. “O estudante pode sugerir que haja uma melhoria na estrutura e na inspeção dos locais, diminuindo a precariedade, levando condições de vida dignas às pessoas e controlando efetivamente o que ocorre dentro dos presídios”, diz.

Além disso, segundo Alana, outra intervenção seria a de implementar projetos de educação e recolocação do indivíduo na sociedade. “Visto que a falta dessas ações fazem com que o preso, após cumprir a pena, tenha uma grande chance de voltar ao cárcere por não possuir perspectivas de ressocialização.”

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  Ambiente/Cenário/Contexto: máquina automática de reposição automática de profissionais coisificados Foco: personagem: profissionais à vend...