sexta-feira, 1 de novembro de 2019

REDAÇÃO. Tema: "Violência vende"

A fetichização da violência na mídia


A exploração da violência na mídia tem impactado profundamente a sociedade. Dos danos psicológicos, passando pela banalização (e fascínio) pela criminalidade, o espetáculo da violência altera a percepção do espectador sobre a realidade.

O sensacionalismo na cobertura de casos policiais é uma prática recorrente na mídia atual, - ois implica aumento de audiência, - já que a violência é extremamente atraente aos seres humanos. Se nosso instinto de preservação é ativado por cenas brutais, não é raro o desenvolvimento de medos patológicos. Ansiedade, depressão e síndrome do pânico são frequentes em muitos espectadores. Outros, contudo, tornam-se indiferentes, insensíveis à dor do outro, mais agressivos, quando não, reativos à violência. 

O mito da democracia racial (e pacífica) brasileira não se sustenta caso nos atentemos, de modo crítico, para um só dia na grade televisiva no país. Programas como Cidade Alerta, Polícia 24h e Brasil Urgente banalizam a criminalidade, com dramatizações grotescas e bordões sarcásticos que desumanizam as vítimas. Há sempre uma matéria - um recorte da realidade - exibida de forma fragmentada (num fluxo de adiamentos) com o objetivo tanto de instigar quanto prender a atenção do espectador. O sentido informativo, portanto, perde-se de todo, a sobressair o aspecto farsesco de “divertimento” ficcional.

A exposição à hiper violência tanto gera horror e indignação quanto aliena a ponto de conduzir ao conformismo. O preconceito, entretanto, é o produto mais cruel da exaltação da perversidade; posto que as periferias são sempre depreciadas em rede nacional. Muitos jovens, principalmente negros e pobres, são estigmatizados diariamente em programas sensacionalistas, sua singularidade extirpada. Tornam-se “alvos” da polícia e são, socialmente, vistos como bandidos potenciais. Perseguições, linchamentos e chacinas sucedem em profusão do mundo real às telas, uma profusão de corpos anônimos destituídos de humanidade e significado, logo, não comovem e já nem “dão mídia”. 

O impacto da exploração da violência é produto de uma sociedade doente, que lucra com a desgraça dos desvalidos. Sendo assim, ela corrompe a dignidade dos retratados e, por conseguinte,  de sua própria audiência. A regularização da mídia pelo Ministério da Comunicação se faz, portanto, imprescindível, necessária para romper com a fetichização do crime, da dor e da morte. Cabe igualmente ao MEC, fornecer material didático às escolas para desenvolver o senso crítico dos jovens, com promoção de debates para ressensibilizá-los, “despertá-los” para o horror que é a exposição e replicação de atos atrozes como divertimento: uma outra forma de crime.

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