A
modernidade fez do trabalho mais do que uma mera ocupação
produtiva: um valor moral. Se na Antiguidade era sinal de
desprestígio, atualmente, determina o status social do indivíduo.
Há, entretanto, uma crise em andamento que impõe uma transformação
do modelo até então conhecido.
Etimologicamente,
o termo “trabalho” relacionava-se a um instrumento de tortura
(“tripalium”), já que para os antigos – gregos, romanos,
egípcios – era uma função para escravos. A Revolução
Industrial e a conquista dos direitos trabalhistas, somados à moral
religiosa (do “ora e labora”), conferiram aos diversos ofícios
não apenas prestígio e respeitabilidade, mas também valor moral.
Com
a ascensão do capitalismo, as sociedades ficaram mais complexas,
dinâmicas e hipercompetitivas. O sucesso se tornou uma obsessão,
visto que o poder e o dinheiro suplantaram as virtudes humanas. A
invisibilidade de determinadas profissões fundamentais, mas “vistas”
com desprestígio (como garis, serventes, porteiros, diaristas, babás
etc) comprovam como a função social determina o modo como as
pessoas são tratadas (com descaso e desprezo) em países
extremamente desiguais como o Brasil.
A
“implosão” no mercado de trabalho de diversas profissões,
devido ao avanço tecnológico, está implicando uma mudança radical
de todo sistema trabalhista. Extingue-se velhas funções e cargos e
o “home office” tornou-se uma prática. O empreendedorismo e a
meritocracia viraram “mantras” (principalmente entre os
“workaholics”), contudo isso não resultou na redução da
desigualdade e em melhores condições de vida. Um trabalhador braçal
tem a mesma relevância de alguém dedicado a uma área mais
intelectual; porém, o grau de instrução é a medida, raramente
justa, a determinar a visibilidade pública e o reconhecimento social
do outro, neste país.
O
valor do trabalho não pode se circunscrever à ocupação do
indivíduo, posto que todas as profissões contribuem para o perfeito
funcionamento da engrenagem social. A exploração análoga à
escravidão é, entretanto, ainda uma realidade no mundo, e precisa
ser denunciada e combatida por todos. Desvalorizar alguém,
ignorando-o ou humilhando-o por seu trabalho, é uma forma de
preconceito que deve, portanto, ser coibida. Para eliminá-lo, é
necessária uma educação que estimule valores humanos, o senso
crítico e a empatia, afinal “o outro, somos todos nós.”
[Produzida com os alunos na terça (27/12/2017), em sala de aula (no MAXIMIZE Paulista Manhã). Esta redação tem como tema "O trabalho e sua função social na modernidade: visibilidade e invisibilidade das profissões" e foi enviada gentilmente por Sophia Elizabete Dong. Revisei o texto para torná-lo também mais preciso.]
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